terça-feira, 5 de abril de 2011

Um mendigo relatado...

E eu acho que estão todos tramados com a falta de jeito e infortúnio que
caça os pulsos com mãos de aço e não lhes deixa balançar o corpo em tom de saudade,
só os deixa comer e deitar,
como aquela pobre pedra da calçada que nem tem onde cair morta e anda a mendigar
pedaços de sol para aquecer seus campos de poeira...
E eu quis fazer como ela...e como eles...Abandonar-me às velas soltas do barco em terra
e crescer descontroladamente com álcool no sangue e
sangue na boca de cair tantas vezes, e sujo de me levantar da terra que comi e com
que enchi o estômago e fiquei com fome mais uma vez
tanta que me fui comendo aos poucos sem me importar se desaparecida e sem me importar
com o cheiro que a minha carne tinha.
E era um sensação de júbilo e desespero, quase de alegria, se tivesse jeito para festejar
atirava-me de uma ponte abaixo só para ter a ideia que ia morrer contente,
mas falhava o alvo por não ser bom em nada...só nisso mesmo é que me fazia bom
já que só precisava de ser eu.
E quando me esquecia de quem sou? E aí perguntava mas nínguem me conhecia porque era
sujo e feio e não falavam para mim,
e eu perguntava outra vez e eles ameaçavam com a polícia ou atiravam-me pedras e diziam
para ir tomar banho ao rio para ver se tirava a negrura do meu corpo
que lhes causava impressão e podia sujar as suas vestimentas janotas.
E eu ia.
E era então que me lavava e quase me afogava naquela água de 5 centímetros de altura que saía
do cano de esgoto, e adorava o cheiro que vinha,
uma vez veio um cheiro a pizza que me satisfez durante uma semana e meia
e me deixou todo orgulhoso de mim mesmo até me expulsarem do restaurante em que ia gastar
os meus 10 cêntimos que roubei ao chão.
E eu podia retaliar, mas do que serviria se eu nem português sei falar direito, vinha eu com o
meu triste vocabulário e eles a falar de juros, pib e inflação
e eu a olhar como quem olha para um pedaço pão com manteiga que voa no bico de um melro
e depois cai na água. Não.
Eu fico mas é calado e viro as costas porque a saída fica sempre atrás de mim e é um caminho que
conheço muito bem
de cor e salteado...

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