sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quem me dera ser triste

Quem me dera ser triste
Se alguma coisa pudesse ser.
Mas pode quem não existe
Alguma coisa tentar obter?

Ricardo Costa

domingo, 23 de janeiro de 2011

Menina

Ai, como eu queria em ti um céu
dessas flores em volta da estrada,
nesse teu precioso véu
em que debaixo te mantens calada.

Menina - Quem me dera ser quimera!
E ladrão de tamanhos feitos
Sobretudo - Ai, quem me dera
afagar minha face em teus suaves peitos!

Queria-te, de uma ou de outra maneira.
Em teus frenesims de calor humano,
para quem sabe - a vida inteira
sendo que não quero estar em engano.

Ah, esses teus limpos olhos marejados
que ao leve vento só arrepiam!
E é com eles, que pobres coitados
pela noite dentro fantasiam.

Peço teus beijos entre parapeitos e janelas,
peço teu corpo sem pudor de notar
- Mas, tal e qual antigas donzelas
ris-te e escondes-te sob o azul luar.

E eu, sem nome, que assim sou
lutador por minha forte natureza
- renego o desespero do que me azarou
e fico lutando por sua beleza!

Menina - Quem me dera pra sempre viver
para que sempre te possa olhar
Ai, que agonia esta - a de não te ter
e saber que não te posso não amar!

E se - cruel destino cair em mim,
sem que possa teu coração ser meu
Gostaria que acaba-se assim:
- "Meu coração será sempre só teu!"

Ricardo Costa

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sei que este é o mesmo sol

Sei que este é o mesmo sol
[nestes mesmos risos]
o mesmo adeus se diz
[venho dizer adeus]
então, sou triste!

Ricardo Costa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Noites e Dias

A noite deu-lhe para acabar de manhã.
A manhã essa, corre, é noite!
Ah, que me foge e não fechei as mãos...
Desde ontem que estou hoje e amanhã!

Inequívoco? Nada!
Coisa alguma...
Nem sei se acordo ou se vou dormir,
Nem sei que dia é o que passou
O nevoeiro cresce!

Verdade - Amanhã é hoje adiantado!
Mentira - Amanhã posso viver se hoje estiver morto!
Verdade - Esqueci das horas no bolso do casaco...

Bem sei, a noite acaba e o álcool abunda.
Dêem-me um copo e me afogo em seus mares de cristal dourado
Dêem-me tabaco e me mascaro de fogo-posto
Dêem-me uma almofada e não sei que lhe fazer...

Por na cama? Saí da cama?

Não exagero, as trocas voltaram-se sobre o inverso de si
Ai.
A cabeça lateja, os pés ameaçam
Tenho tido o dia mais longo que não me lembro
E estou a começar no fim...

Fim? Início?
A noite deu-lhe para acabar de manhã
nesta manhã de ontem
hoje?

Ah, que dia é hoje?
Nem sei...

«sssssssssss, sssssssssss...... ssssssss, sssssssss» o burbulhindo
dos infelizes continua lá fora
e eu espero que alguém me recorde o dia

«sssssssssssssssssssssssssssssss»

Ricardo Costa

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Álcool

Não é ópio e tabaco enrolado,
não é fumo nas narinas...
O que é - líquido mascarado,
álcool puro e toxinas.

Ricardo Costa

Pelo teu corpo passam navios

Pelo teu corpo passam navios
Pelo teu sorrir águas vão
Pelos teus olhos que são rios
Flutua teu leve coração.

Pelos teus ombros corre a Lua
Pelas costas uma brisa de ar
Que pelo corpo é toda tua
A brisa desse teu quente mar.

Ricardo Costa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sereno aguardo

Sereno aguardo o tardio fim
De qualquer coisa que não tenho
De uma metade cortada em mim
De um corpo que já estranho.

Não sou adepto do esperar.
Na verdade, apenas, não sou
Sendo que gostava de acabar
Começando no fim que tardou!

Ricardo Costa

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tudo me prende a tudo

Tudo me prende a tudo
se tudo quanto sou
é um nervoso miúdo
de um amor que despertou!

Não existo sem tudo ter,
Não tenho tudo sem existir...
Não penso no querer
baseio-me no sentir!

E tudo é esta incerteza,
esta cousa de não saber!
O amor e a tristeza?
Ou a dor e o prazer?

Ricardo Costa

Nada me prende a nada

Nada me prende a nada
se a nada me prendi,
e sem nada, pobre coitada
desta alma que não se ri.

Qualquer coisa me valia,
se ao amarrar pudesse
fingir que existia
ou esquecer que o soubesse.

Quero ser corda de laço
com cego nó apertar
ficar em embaraço
e, desembaraçado, des(a)pertar!

Ricardo Costa

domingo, 2 de janeiro de 2011

Pudesse eu ser nevoeiro

Pudesse eu ser nevoeiro
e brincar de cinza cor,
sendo meu coração inteiro,
inteiro de não ter dor!

Ricardo Costa

sábado, 1 de janeiro de 2011

Se como só não estou

Se como só não estou
estar se querer não quero
se sem estar já não sou
e nem quero, desespero!

Se como feliz não deixasse
de tristezas me fazer,
se de felicidade não bastasse
recordar para esquecer.

Dos encantos me sirvo, nada,
de escravo me faço ensinado.
Não é mais que assim acaba
do que mais houvesse começado!

Melhor que o nada que ficou,
é o tudo que não foi visto.
Se como só já não me estou,
se como assim já não existo!

Ricardo Costa