terça-feira, 19 de outubro de 2010

Se no amor há uma insanidade

Se no amor há uma insanidade,
O que haverá em nós?
Em mim?
Foram inúmeros os lugares em que me sentei, mas nenhum,
nem um...
Foi como o lugar a teu lado!
Seja qual for a insanidade, julguei te amar numa verdade que vim a descobrir errada.
E depois...
Nada se faz para além de inventar desculpas para as nossas derrotas!
Nisso o amor passa a insanidade,
entrega-se há vida falsa e fácil da mentira...
Tentemos pois amar, não com a cabeça mas sim com amor.
Se essa insanidade que falam nos atacar de surpresa ao menos saberemos que, na porta ao lado, todo o amor que cultivamos nos ajudará a cortar as raízes...
Em todo o caso,
não cometam o mesmo erro que eu e tantos outros...
Não estudem o amor!
Vivam apenas com o coração aberto e sem fechar as portas a um novo sorriso, a uma nova amizade...
Aceitem todos os carinhos e retribuam.
Amem...
Que, se o amor é insano de certeza haverá parte boa nessa insanidade...
Basta procurar!

Ricardo Costa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

12

I - Janeiro

Jaz, assim de braço posto,
Como se (nunca) tivesse começado.
Velhice que lhe atinge o rosto
Na sua certidão jaz, errado.

Depois, só o frio se contenta
Já perdido o passado na neblina,
Que é o Fado mais que a tormenta
Do que passar ignorando a sina!

Louco e só na sua memória,
Suave desvanecer de sua lembrança.
Como se esquecer trouxesse glória
E lembrar desse esperança!

II - Fevereiro

Dum qualquer dia esquecido
Onde parece incerto o querer.
Ah, quando já se dá por perdido,
Sendo um coração ferido
Tudo o que resta para ver!

Que angústia fria!
Esta que nos dá o medo...
A nossa alma sombria
Que só e vazia
Se perde em desassossego!

Quanto não mais do que parece
Arrasta lentamente cada prece,

Se, da prece, cada ânsia de ser
Resolve-se cair...morrer!

Seria o dia que agora acaba,
Metade de tudo, metade de nada.
Onde o fim serve a loucura
E toda a dor não esperada
Dura...Dura...Dura...

III - Março

Nada. Só a agonia do ficar...
O tempo passa em suave passeio,
Passa passando onde eu creio
Nada mais se resolve mostrar!

Tudo é fácil! Uma solidão de amor.
Um sorriso que foi esmorecendo
De uma figura já envelhecendo
Que da vida só aproveitou a dor.

E agradece, vazio, sua bondade...
Se como a chuva caísse no pasto
Seu rosto já cansado e gasto
Nada mais diria do que saudade...

Tudo. Inútil tentativa de mudar.
Moldando o pensar e a mente,
Sentindo só como se não sente
Ficando-se parado a chorar!

IV - Abril

Pouco interessa o que sou.
Já que não sou o que ouso saber,
Sou o que o outro me tirou
Sou metade do meu ser.

Assim é esta vida insana,
Nada que sou por inteiro serei.
Alma que dividida se faz profana
Reclamando o que não terei...

Ah, como não fiz minha vida!
Em mim como uma solidão...
Terrível agonia que esquecida
Me vai matando o coração!

V - Maio

Vivemos pendentes, como sem dono
Acumulando em nós todo o sono.
Se ao sono dermos nosso abandono
Nosso abandono do sono será dono!

São artífices de sem-abrigo.
Como se do abrigo morresse o perigo!
Mas sem perigo não há abrigo
E com "sem" há sem-abrigo.

Mas nada fiz. Eu bem sei...
Como se soubesse o que serei!
O que sou? - Eu não sei
E sem o saber não o saberei!

E assim a vida termina...
Numa certa incerteza da sina!
Quem determina a incerta sina?
Ah, termina vida...Termina.

VI - Junho

Inúteis esses dias que mortos vejo
Poisados pachorrentos sobre a mão.
Como sem assas voa um desejo
Tento voar sem sair do chão!

Terrível calor que o frio me traz,
Em sua bagagem uma tristeza!
Serei só eu o incapaz
Que se verga perante a incerteza?

Não! Já sonhei voos mais altos!
Sonhando então a perfeição,
Sonhei sonhando sonhos incautos
Que recearam rejeição!
Mas, como eu, mostram-se fracos
Estes sonhos feitos de trapos...
Pois em trapos está meu coração!

VII - Julho

Quantos amores se perdem no ar?
Levemente puxadas pelo vento...
Como se não fosso o amar
Mais que uma forma de desalento

Doce! Quão impuro é este mundo?
Se nesta paisagem desolada
Tudo o que há é certamente profundo
Menos o amor, que não é nada!

É como se esperasse eternamente,
Na loucura de um pensar.
O sentir que em si dormente
É nada de nada: só amar!

VIII - Agosto

Quem pintou o jardim de verde?
Quem ousou o jardim pintar?
Se este nunca pintura teve
E quem pintou foi-se enganar!

O jardim não tem cor!
Como não tem a felicidade,
Seria possível pintar a dor
Dando-lhe um tom de bondade?

Parece ás vezes que sim,
Que certas pessoas acham verdade.
São essas que pintam o jardim
Distorcendo a realidade!

IX - Setembro

Olho, vendo só que nada vejo.
Nada me resta, nada restou,
Nem um pequeno desejo
Dos que minha vida almejou!

Como um sol que se escondido,
Me não consigo encontrar.
Em minha mente sempre perdido
Mas receando me encontrar.

Não sou de ninguém. Nem meu!
Sou outra pessoa por dentro.
Outra pessoa que recebeu
Minha alegria e contentamento.

Ah! Como é fácil chorar!
Difícil é pensar que é felicidade.
Mas mais difícil é amar,
Não sabendo se o amor é verdade...

Mas sabendo eu que não sou o ser
Que nesse corpo por mim vive,
Deixo-o ir, para que possa ter
Toda a tristeza que ainda não tive!

X - Outubro

Simples canção ao ouvido
Que sem saber
Em mim tudo se faz esquecido

Esse esquecimento que ouso ter,
Morte...sim!
Do meu ser

Já que meu corpo está acabado,
Sem nada...
Como que derrotado

Só sobrando uma canção nobre
Que, mesmo Rei,
Me trata como pobre...

E eu sem nada poder falar
Calado!
Num silêncio de estalar

Que lentamente me arrasta.
Em braços fortes
De uma morte sombria e nefasta!

XI - Novembro

Que queres? Ouve! - São mil sentidos fechados
Vê! - Tudo é teu, basta quereres.
Toma! - Se os não queres prendados,
Para os sentires antes de morreres!

Descansa então! - como um segredo vadio.
Se como nevoeiro te cobre de amores,
Sorri! - Abraça o sentir que vem tardio
Na dita estrada dos tais sabores.

Luta! - Nada importa se não venceres...
Mesmo que venças sem nisso pensar.
Vence! - Pois assim quando te fores
Eu viverei com o teu amar...

XII - Dezembro

Tudo se resume num final perfeito,
Em todas as horas de um dia...
Se como um sonho já desfeito
Se revivesse por magia!

E jaz! Como no início...
Um frio que te mata o sono.
Sendo que nenhum precipício
De ti se faz soberano dono.

Sendo assim: Só o querer!
Resta do que sobrou da vida,
Nenhuma treva para prender
Uma vida para ser vivida...

Ricardo Costa

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sem amor que se sinta!

Se aos passos que me cruzo, uma vontade de amar me atingisse...
Para mim diria:
-Pára!
Pois o respirar dói mais do que possas imaginar.
Mesmo antes de te encontrar já os meus sonhos te tinham esquecido...
Salva-te!
E deixa-me morrer para voltar a aleijar os meus sapatos...
Sem amor que se sinta!

Ricardo Costa

domingo, 10 de outubro de 2010

Em mim, uma musicalidade

Há como que uma musicalidade
Nestas veias usadas,
Sons puros de criatividade
Mesmo em notas do som privadas!

Um qualquer som que se faz,
De um suspiro de cansaço.
Ai, que em mim se desfaz,
Compasso em compasso.

Música...Que sou eu mais que isso?
Se não um incompleto de estar.
Será amor? Magia? Feitiço?
Estes sons...Este sonhar...

Ricardo Costa

As vozes que dentro de mim

As vozes que dentro de mim
Silenciadas estão,
Fazem-se ouvir mesmo assim
Na minha eterna solidão!

Qualquer som proferido,
Que na garganta me provoca
Um querer falar reprimido
Desta agonia que me sufoca...

Louco sou, por louco ser,
Finjo em mim a sanidade.
Já que me dou por esconder,
De mim, a minha identidade.

A essas vozes então, sou eu,
Eu que fui mas já não sou.
Que, entre mortes, percebeu,
Que só a loucura lhe sobrou!

Ricardo Costa

Sentado, me descanso...

Sentado, me descanso destas memórias
Que sem fingimento de ser,
Me recordam de tudo o que não sou: Eu...

Ah, relaxante sentimento de sabedoria errada,
Que me fere as costas
Nas falsas mentiras em que me deito levemente.
Cadeira de vergo que não me dá sorte,
Se a vida ma procurasse
Sem amor que à vista descobrisse!

Sou eu, assim sem nada ser!
Que me escondo do que não quero ficar...
Já a vida se levanta em mim,
Mas o cansaço me faz ficar sentado
Como se sozinho me silenciasse das vozes.

Sentado estou nu de tudo...
Já a tristeza me fala
Sendo eu que nada sou, sendo eu mesmo,
Me parto em papeis que assumo secundários
E vivo a vida
Que nas esteira se faz difícil...

Sentado, eu descanso...
Ah, merecido descanso!

Ricardo Costa

sábado, 9 de outubro de 2010

Tenho as mãos sujas do teu corpo...

Tenho as mãos sujas do teu corpo,
por ter estado a trabalhar
nos nossos prazeres...

Ricardo Costa

Como uma saudade

Como uma saudade
Que mora em mim.
Onde a alegria não é realidade,
Todo o sorriso é fim.
Toda a agonia se faz verdade!

Onde o coração se transforma
E o céu escurece.
Será que minha vida se conforma
Enquanto, docemente, entristece?

Se ao menos pudesse fugir,
Destas algemas me libertar.
Será que iria sorrir...
Antes da saudade me matar?

Ricardo Costa

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sensação de ausência 

Como se fosse sem ser,
Existir sem lá estar,
Viver sem viver,
Respirar por respirar!

Avançar recuando,
Ver sem olhar,
Fingir-se amando
Numa ausência de estar!

Sozinho em si,
Singular em gente,
O que na solidão ri,
ri-se tristemente.

É uma sensação de ausência ,
Como um sorriso enlutado,
Um início da falência
De um ser já acabado!

Ricardo Costa

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

/8. (A rapariga do autocarro)

A rapariga do autocarro,
Como fogo o seu cabelo,
Ah, como me deixou fascinado
Seu semblante tão belo!

Ricardo Costa

Chuva

Chuva,

como de mar
se fizesse
o chão que pisámos,

sonho?

A chuva adormece sobre os braços
e cumprimenta os barcos
que dizem adeus pela corrente.

Quanto da chuva
são
chocolates quentes em casa?

...é uma doce solidão!

Na chuva um papagaio voa,
pior se for de papel...
...nunca se sabe...

Só nós..."mestres do pensamento",
reflectimos sobre isso
...Amor mal resolvido?

Talvez...

Chuva, é isso...

Para mim continua água..
Não?

Ricardo Costa

O maior poema do mundo!

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.........................................................................Fim.

(No meio vai-se escrevendo a nossa vida)

Ricardo Costa

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desisti

Desisti. Desisti de tudo o que me cansa! Mas, principalmente, desisti do amor que queria inventar.
Desisti até de sorrir para a vida, saboreando apenas a solidão. Sim, eu sei...Sou fraco e cobarde.
Mas é mais forte que eu, e já nada há a fazer. O muro já caiu e as escadas ruíram. Não posso recolher
os destroços dos sonhos que deitei fora!
Desisti da vida por viver numa mentira que fui construindo aos poucos. Agora sei que foi em vão, pois
a dor e o sofrimento continuam. Sei que desisti de nada e agora, azar dos azares, fiquei com ainda menos!
Pois é, bolsos vazios, cara triste e coração desfeito! Sou rei do nenhum e governo um esquecimento que me foge
para me amaldiçoar as noites.
Desisti de toda a força nas mãos, quis nunca mais abraçar. Só as lágrimas resistiram às minhas vontades,
porque, agora, eu choro...
Todo o medo que quis esquecer vem para mim em busca de respostas que não posso dar!
Porque, verdade seja dita, não sei porque desisti de tudo...
O arrependimento magoa e não tenho ninguém que me console.

Ricardo Costa

Meu Amor

Meu amor, são efémeros
Todos os momentos
Se, ao vive-los,
Qual sombra receamos pisar.

E de todos são nossas lágrimas
Que conhecemos falsamente
Se, ao rir-mos sem vontade,
Afiámos a ponta da espada.

Tudo é vão, meu amor,
Se ao amar-mos demais
Este se gastar
Como um fósforo ao vento!

E um qualquer raio de Zeus
Já no fim do dia
Como se a ira resolve-se agir
Faz-nos levantar da cadeira...

Recomeçando, meu amor...

Ricardo Costa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lá fora um sombrio frio

Lá for um sombrio frio em redemoinho
Paus, árvores, folhas, caem silenciados
Dentro do meu ser só os destroços falam
E em qual luar o Sol se esconde de medo...
Ergo muros na tempestade lá fora
Se aos cavalos lhes tiro o cavaleiro
E em todos os rios que choram sozinhos
Vejo-me debaixo da ponte admirando-os!
Gente que passa passando gente
E da gente se faz o frio da solidão...
Se neste Outubro um abraço me fizer falta
Deita a minha cabeça aos ombros
E desaparece sob o manto de nuvens!
Já não sou quem era...
De repente a hora já me esqueceu
Só o frio, o sombrio frio que desliza
Permanece a pintura que pintei de olhos fechados!
E sou o esquecimento que fui...

Com mãos vazias de tão cheias
Desaperto os cordões e atiro-me ao mar...
Como se do frio nascessem amizades
Eu faço do gelo minha cama
Neste sombrio frio que lá fora dorme.

Ricardo Costa

domingo, 3 de outubro de 2010

Recusa

Será possível recusar
algo que o nosso coração aceita
mesmo sem ter
nem os olhos por em cima
sem descobrirmos sua história
nem saber sua língua
qual a casa onde mora
e quais as ruas que andou.

Como é possível querer recusar
sem antes ter amado
sem conhecer todas as montanhas
e sem provar o ódio
que da alegria se vai rindo
enquanto nós recusamos
e vamos morrendo na tristeza.

Nunca ameis a recusa
quando vosso coração ainda voa!

Ricardo Costa

Os Braços

Os braços,

como o mar
de um sorriso
de Inverno

são flácidos!

Os braços querem cair

mas que braços
seriam
estes que caem

se ao cair
não mais
pudessem abraçar?

Ricardo Costa

sábado, 2 de outubro de 2010

Foi quando fechaste os olhos

Foi quando fechaste os olhos,
que já a tarde demorava
em que os lobos roubavam o Sol
como se de uivos se fizesse o tempo!

Mas fazes questão de parar
entristecendo o comboio que se atrasa,
molhando o seco do passeio
e ouvindo de bolsos vazios
o sangue adormecer-te as faces.

Enfim, a hora chega,
e cantas aos lençóis rasgados
que, na pressa das tuas corridas,
deixas-te à porta da nossa rua.

Pisas a relva sem forças,
e olhas sem dó, sem escutar.
Rebolas na neve que te ama
e deixas-me a divagar no escuro...

Onde, sozinho, brinco com a sombra do meu mundo!

Ricardo Costa

/7.

Adeus Sr. Capitão! Que esses mares cruzas
Em busca do distante e do canto de algumas musas!

Saudações com armas e canhões! Ao vento grita a voz
Que, em alto, sai dos pulmões, um desabafo de pureza atroz.

Ao Sol que se deita sonolento, sobre as nuvens passageiras
Como um desejo de contentamento, essas saudações derradeiras!

Ó Sr. Capitão! Ó Deus que reina, solitários, as águas
Se ao prenderes a solidão, esqueces os que amas e suas mágoas!

Digo então esse adeus! Como de bom grado me faço rir
Esqueço todo o momento passado lembrando-me só que...morri!

Ricardo Costa