Passei toda a minha vida atrás de algo,
a correr infinitamente em busca daquilo que julgava que me iria satisfazer.
Corri tanto que acabei por me perder...
agora estou cansado, sim, muito cansado...
não posso correr mais.
As minhas sapatilhas estão estragadas, gastas e infelizmente não vejo nenhum sapateiro...
continuo perdido...
perguntas-me porque não peço ajuda...
sim, poderia pedir...contudo estou sozinho...
a minha companhia é a eterna solidão e se queres que te diga é o mesmo que ter nenhuma.
Toda esta correria me fez esquecer quem sou...
a cada passo uma memória se perde,
a vida perde-se no quilómetro 666...
pelos meus cálculos estou no 665...
já só me lembro do meu nome, mas não gosto dele.
Tudo o resto é uma névoa indefinida...
eu sei que vi muitas pessoas, mas não sei que são...
já não vejo os seus rostos, mas sim as suas faces viradas do avesso...
a culpa é do suor que me turba a visão...
também me turba os sentidos... o único que possuo neste momento é o sexto...
a dor...
parece que fui fabricado na fábrica dos pesadelos, modelo inútil posto de lado...
felizmente a minha bateria está a acabar.
Pelos vistos não vou chegar àquele difamado quilómetro...
ainda bem...
não quero perder mais do que já perdi...
não quero perder a única coisa que ainda me resta...
não quero perder o meu nome...
se isso acontecer... como é que a solidão me vai chamar para o seu abraço gelado?
Não quero pensar...
afinal de contas não vou lá chegar...
ao quilómetro 666...
pelo menos assim o espero.
Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos
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