quarta-feira, 29 de setembro de 2010

/6. (O rapaz que prendeu o vento)

O rapaz que prendeu o vento
Esqueceu-se de segurar
E, coitado, que nesse momento
Pelo ar saiu a voar.

Tocou as nuvens lá no alto
Cumprimentou a Lua de passagem
Viu Mercúrio, deu lá um salto
Ao sair deixou a bagagem.

Em Marte se acomodou
Pensava só em se divertir
O vento, cansado, o empurrou
Deixando-o, em queda livre, cair.

Foi ao cair que ele acordou
Já o vento tinha ido
Só uma brisa lhe restou
Do vento que tinha prendido.

Ricardo Costa

/5.

Uma noite.
O Sim e o Não aceitam-se
em papeis inesperados.
Todo o peso dos venenos.
Qualquer um de nós
envolvidos em desejo carnal!
Os sonos que se dormem
acontecem de barriga para o ar...
Respira a solidão do meu abraço!

Ricardo Costa

/4.

Carrego nas mãos
toda a leveza de noites tardias.

Ricardo Costa

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Morrer de improviso

Quem me dera ser o tipo de homem
que morre descansado
sobre os arrepios de um sorriso improvisado!

Ricardo Costa

/3.

Uma lágrima
Solta
Prendeu-se nas cortinas

O vento a leva

Deixou-me...

Sorri para mim
Azul
E toca-lhe suavemente

E o fim
Onde?
No princípio do nosso beijo!

Ricardo Costa

/2.

Quando pintarem o teu nome nas estrelas
e todo o fumo se rir,
deixa te ser um coração despedaçado,
e, por um momento,
sê invisível a todos os olhares.
Assim, quando acordares
verás que foi tudo um sonho...
E voltarás a sorrir.

Ricardo Costa

/1.

Como se a noite fosse gaivota
ao bater as assas
caísse do céu um pedaço de anjo.
Por ventura
os loucos deixariam suas tocas
e tu,
finalmente espreitarias entre as nuvens!

Ricardo Costa

domingo, 26 de setembro de 2010

Os teus seios

Teus seios, quando os toco entre beijos
Em anseios de louco apaixonado
São o expoente dos meus desejos
Em momentos excitantes de pecado!

Teu corpo, como o sinto ao tocar
Em arrepios de perfeita satisfação
Como dois seres no acto de se amar
Perdidos entre a loucura e a perdição.

Já entre os lençóis, o teu suave calor
Queima a vista aos teus seios desnudados
Que mais será se não for o amor
A ferramenta do coração para ficarmos escravos?

Ricardo Costa

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ás vezes só me apetece dormir e deixar as escritas para quem as sabe

Ás vezes só me apetece dormir e deixar as escritas para quem as sabe,
E quem as sabe se não eu, que tudo julgo saber?
Escrevo pensamentos como o vento fustiga as árvores solitárias,
E cada uma ama-se a si,
Onde o amor é só um pensamento que faço brotar do chão!
Amar cansa o pensamento...
Eu que me esqueço de dormir para acordado imaginar que sonho,
e o sonho escreve a solidão da noite passada em claro,
Nem sei!
Do quanto do desejo de não escrever se faz a minha vontade de pegar a caneta!
Todo eu sou um farrapo de desejos,
Se ao imaginarem os desejos os virem sem pernas para andar!
Se vejo a mão, por ironia sou cego de outros sentidos
Mas só o sono me é privado aquando a altura de me desejar uma morte!
Deixai esta alma deitar-se sobre o seu leito de inexistência,
E perder-se nas montanhas de rabiscos que a sua respiração desenha no ar gelado!
Por ventura a escrita será mais que o meu sangue
E eu morrerei num último capítulo que a minha alma encena!
Finalmente o sono...

Ricardo Costa

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

::amor::

Quem sabe o que é amor
Julga sem saber
Pois amor é uma dor
E a quem ama faz sofrer.

É muito mais que felicidade
É um misto de agonia
E quem se ama de verdade
Vai deixar de amar um dia.

Mas quem é Rei para mandar
Por um açaime ao coração
Deixar ele não amar
Preso numa eterna solidão.

Já quem ama muito, esquece
De ao passado espreitar
Esse amor que enlouquece
Já foi acusado de matar!

Por mais que se diga, é vã
A tentativa de mostrar
Que qualquer mente sã
Pôs de lado o seu amar.

Ah, mas para quê esforçar
As pessoas vão entender
Quando o coração reclamar
Com ânsias de morrer.

O amor assim é
Nada de bom vem de graça
Vai definhando até
Cair em sua verdadeira desgraça.

Ricardo Costa

Por labirintos e alçapões

Por labirintos e alçapões
Se escondem pequenos enredos
Que de grandes corações
Se desdobram em seus segredos.

Em suaves passadas silenciosas
Que caem ao chão desamparadas
As vontades ociosas
Das verdades não contadas.

Entre os alçapões e labirintos
Vejo a peça se desenvolver
São de caçador os instintos
Os instintos de se (vi)ver.

Ricardo Costa

"Parece que o destino nos quebrou"

Parece que o destino nos quebrou
Mesmo que não certo seja
O que demais falsamente sobrou
Um tesouro que tanto deseja.

O certo é que está quebrado
Nasceu a plena divisão
Voodoo, magia e mau olhado
Dor, tristeza e solidão.

Seja como for, assim o é
Resta obedecer ás ordens do fado
Aguentar a raiva até
O destino quebrar um outro lado.

Ricardo Costa

sábado, 18 de setembro de 2010

Parece

Parece que este fogo nos queimou
deixando na pele seca
uma gota molhada de orvalho

parece que este veneno nos curou
matando em nós
os sacrifícios de um buraco ausente

quem permaneceu sentado?

parece que o táxi se atrasou
gozando as drogas
e vendendo as nossas almas aos céus

parece que os ventos se calaram
e os bancos de jardim
se envolveram fisicamente

de quem são os sapatos já gastos?

parece que eles se renunciaram
e os sóis enlutaram
por uma peça de roupa gasta

parece que os filmes se pintaram
e todos os sinais
se negaram em afirmações falsas

quem escreve com as mãos atadas?

parece que as mortes se alegram
os jornais caem
e o chão se conhece melhor

parece que os navios não largaram
as nuvens ficaram sós
e as estradas sem rumo e sem vista

quem deu de comer aos ursos?

parece que os papeis se rasgaram
as vozes abriram as gavetas
e os leões se tornaram homens

parece que os deuses caíram
as saudades governam o mundo
e a ira conheceu a sua família

quem ouviu a música e o silêncio

parece que a verdade se esconde
os narizes se arrependem
e os cheiros se agonizam em saudações

parece que o mundo é quadrado
os sentimentos amarrando-se
e os cavalos correndo com as sensações

quem deixou o fumo entrar em casa?

parece que tudo se acabou
os sorrisos se esqueceram
e as bocas adoptam o ódio perdido

parece que a guerra já venceu
as agonias já procriaram
e os medos receiam todos os olhares indiscretos...

Ricardo Costa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mais do que te sei dizer

É sempre mais
do que te consigo olhar
sem retrair o coração e afastar-me
suavemente
abafando os meus passos

São de inúmeros silêncios contados
e olhares desviados
que as nossas conversas se fazem

E sempre fechadas
estão as ruas e as lojas de alegria,
assim como as tuas mãos
que anseiam contactos.

Só se abrem os jardins
e os teus ouvidos
como qual flor esperando o
seu pássaro predilecto!

De todas as portas e casas
se ouve o burburinho de remorsos
mal contados
e de amores não falados!

E assim se fazem as tristezas...

A luz só o teu sorriso
e os meus aconchegos tardando,
enquanto cada passo conta
e cada dia morre na saudade!

Mas mil palavras é demasiado pouco
assim como em mil estradas
não chego ao pé de ti...

É sempre mais do que te sei dizer,
Amo-te é apenas o início...

Ricardo Costa

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ladrões vagabundos

Em refúgios se acanham
Que os querem secretos
Os homens que estranham
Todos os actos correctos
Em suas vidas perdidas
Nas ruelas escurecidas
Onde forjam seus passados
Imaginando-se perdoados
E suas maldades esquecidas!

Idolatram a ignorância
Sem uma ponta de saber
Culpando uma má infância
Como que justifique seu fazer
A maldade em suas mentes
Os pensamentos delirantes
Tudo como maldição
O antro de perdição
Desses vadios delinquentes!

E é viver em receio
Desses ladrões vagabundos
Que reinam sem enleio
Seus terríveis submundos
Onde as regras não existem
Os cobardes não resistem
As leis não se aplicam
As mortes se intensificam
E as maldades persistem!

Ricardo Costa

Quem diz?

Quem diz que não posso esconder toda a minha
boa vontade num pequeno frasco debaixo do travesseiro,

E dar um passo para a solidão?

Ricardo Costa

sábado, 11 de setembro de 2010

Princesa

O mar nunca cai em solidão
assim como
os teus olhos nunca falam sozinhos.

É como o gesto de te entregar uma flor,
simples e belo...
As perdições desses teus reflexos faciais!

Os desvios mortais dos teus cabelos loiros
em espreguiçadelas das tuas mãos
cobrindo o arco-íris e os pássaros
em voos rasos...
Doces ternuras, os teus lábios de mel.

Resvala sem sentido em ódios mortais
o teu corpo de deusa!

A estranheza da burguesia dos teus actos,
só a tua solidão
morre antes de as ondas se tocarem!

Contorces as feições de raiva e, mesmo assim,
ofuscas o Sol...

Cobre-te o nevoeiro de final de dia,
como de um azul cerrado se refugia o teu sorriso.
A cumplicidade do tempo chama-se
e os jardins dão o toque de recolher.

A princesa mergulha nas sombras
e deixa o rasto de fumo que a sua passagem
transforma em ouro.

Ricardo Costa

Quarto

Corra as cortinas, os lençóis
e atira-se
atingindo a cama.

Apanhe do chão os remorsos
e envolve-os nas almofadas.

Deixe a luz do quarto acesa
para ver onde vai pisando a sua felicidade.

Não morra
enquanto não vir as suas fotografias partidas!

Durma o sono dos vagabundos
e quando acordar
abra as cortinas e cumprimente o sol.

Ricardo Costa

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quanto da vida são momentos não aproveitados?

Quanto da noite são imagens tuas?
E, de todos os arrepios que me ofereces
em vozes soluçadas,
qual deles tu realmente queres dizer?
Acredito que só me amas parcialmente,
em horas definidas
mas que acabam tristemente sós...
Nem sempre é o tempo que se atrasa,
o amor pode
fazer as horas se esquecerem.
E tu julgas-te cega...
Ao fechar os olhos inocentes
e fazendo por não acreditar!
A prisão de um mundo opaco de sentimentos
é um passo em direcção à morte,
caminha com cuidado...
Quantos buracos achas que tem o chão que pisas?
Ampara-te em mim.
Ampara-te ao nós que quero inventar
e, se conseguires,
ouve as pisadas do meu coração pois, lá
no escuro, ele sabe o caminho
mais seguro para tu atravessares...
Aproveita!
Quantas vidas achas que podes amar?
Morre e vê por ti,
todos os demónios têm a tua história de solidão!
Vive de maneira diferente...
Sorri para fora,
sorri para dentro...
Sorri ao mundo e espera o troco de braços abertos.
Deixa os teus medos cair
chora as tuas desgraças
percebe-te igual a todos, mas diferente o suficiente...
Quanto da vida são momentos não aproveitados?
Não faças caso,
envolve a tua mão na minha que se estende,
e, deixa que a vida se desenhe
em pedaços de alegria que possas guardar no coração!
Recorda.
Ama.
Vive.

Ricardo Costa

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Rio da Morte

Fluem as águas escuras em seu rodopio,
que da triste noite se enlutaram
do sangue vil que os cavaleiros derramaram
nas margens secas do assombroso rio.

O tempo passou, mas permaneceu o frio
chama gelada dos que lá morreram
Fados esquecidos, heróis pereceram
ao Mundo se desconhece seu lado sombrio.

Tudo tem já decidido, a história;
Esquecerem os livros sua localização,
heróis falecidos sem grande sorte.

Contudo, guardados estão na memória;
De Reis se faz sua nova coroação,
dos que lá ficaram, no Rio da Morte.

Ricardo Costa

domingo, 5 de setembro de 2010

The stone and thunder

Trough the stone in the path
i walk my feet among the shadows,
see the dragon
see the beats
call the devil, call the wind.

Nothing more than a reckless feeling,
suffering,
when the lights disapear
and the switch has been destroyed
remaining only fear!

I raise my head to the thunder
i bow in respect to death,
i give myself
like a coward
run, run, run, run...

just running away!

I crush my silende in the mirror,
put my back againts the wall
taking the sword with a broken hand
close the eyes
and jumping to the dark!

And..nothing!

Absence of gravity,
only air
just a body...

The stone is falling
and
falling with thunder!

I crawl on the ground
but now...

I'm realy dead!

Ricardo Costa

sábado, 4 de setembro de 2010

24.00h

é o espelho

embaraços

pés entrelaçados

lábios secos
poesia
doces amargos

lutadores de rua

casas caídas
hoje
gatos pardos

pradarias despidas

mulheres da vida
lua
carros de mão

pincéis de papel

paredes pintadas
olhares
sinfonias melódicas

prazeres discretos

saber irónico
vazios
mato rasteiro

frutas coloridas

pedras no caminho
cabelos
vento distraído

sopros e suspiros

corações despedaçados
nuvens
força mística

saltos de tempo

raios de luz
comboios
sorrisos de amor

figuras em sombra

vestidos de malha
moedas
esquinas e bebidas

cheiros afrodisíacos

colares de ouro
seios
ruas mal iluminadas

sons ocos

instrumentos sem som
ritmos
silêncio inesperado

saudades

gestos vazios
portões
passadas de desrespeito

delícias de inverno

tempo de verão
primavera
chuvas de outono

escritas sem sentido

papel deformado
rosto
olhos de louco

fotografias de noite

barulhos esquisitos
vozes
imagens perdidas

paraíso terreno

ladrões de tesouro
mapa
cama desfeita

minha casa

corpo deitado
morte
vida já passada.

meia noite

novo dia
sol
renascimento

Ricardo Costa

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um sorriso: Um amor: Uma morte...

Falo-te como quem adormece
e enquanto a manhã se estende
nas janelas abertas.

A morte faz em mim seu desenho,
qual veneno mortal,
leva-me a uma doce loucura
e melancólica saudade.

O mundo senta-se plácido sobre si
em seus mares de agonia
e desmorona-se num qualquer deserto de desespero.
A noite jamais cairá
e só o ar entre as árvores
nos dará a certeza das incertezas
que se escondem na penumbra.
Colhe em mãos suadas os pântanos salgados
que as lágrimas criam no infinito.

Rir em silêncio perturbando umas cores
ensaios sobre a cegueira e sobre o fogo,
lavas e correntes na encosta de uma montanha.

Rasgar uma carta de despedida,
um bilhete suicida em perfume caro,
e querer ver o desabrochar de um amor!
Eu sei,
escreves o teu nome em sangue seco.
Só o dia perdura em brincadeiras parvas
em ecos e sons graves
um único olhar cúmplice da vontade,
mas falsário de todas as mentiras que escreves
no teu olhar assassino.

Entrar num carreiro mal iluminado
só a tua mão me guia e me acha,
mas perco-me nas teias da tua saliva que,
aos poucos,
me vai hipnotizando e tirando o sabor acre
que me faz chorar!
Sapatilhas já gastas de correr...
Só os teus gestos que nada dizem me fazem
querer trepar o maldito muro.

Cair no vazio é por vezes a melhor forma de
saber quanto vale a nossa alma.

Deixo o mapa aberto se queimar e,
invento uma epidemia que me fere os pensamentos.
Uma greve, um despedimento...
Amarro meus poucos pertences a uma corda de pano
e atiro-me de pés para o vácuo
da garganta do poço sem fundo.

Só lá na escuridão posso ver a luz que o teu corpo
irradia,
mas sozinho e sem voz
digo que já não há amor e sim uma simples
vontade de poder amar
enquanto o fim da noite se enamora com o fim do mundo!

As mãos que me seguram as faces
estão tão frias
que é impossível eu não acreditar
que morri...

O suave toque do teu sorriso
fecha-se no meu peito
como se as portas do céu se abrissem
na escuridão da minha alma.

Tudo foi dito
mais ficou por dizer.

Mesmo assim, já não te quero amar.

Ricardo Costa

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

17

Dentro do caderno, uma folha

e um sorriso
quando se fala numa antiga ternura

já por lá se fez menos

Dentro de um sorriso, uma voz

e um olhar
quando canta um regresso esperado

e um querido aconchego

Dentro de um olhar, uma imagem

e um navio
que vive e canta alegremente

enquanto passa...

Ricardo Costa

A que portas?

Quando fechas as tuas mentiras,
a que portas julgas
que elas vão bater?

Fantasia comigo
já que a visão foge dos teus olhos
e és cega...

Não mintas mais.

Dá o troco do que recebes e,

Ama-me.

Ricardo Costa