Falo-te como quem adormece
e enquanto a manhã se estende
nas janelas abertas.
A morte faz em mim seu desenho,
qual veneno mortal,
leva-me a uma doce loucura
e melancólica saudade.
O mundo senta-se plácido sobre si
em seus mares de agonia
e desmorona-se num qualquer deserto de desespero.
A noite jamais cairá
e só o ar entre as árvores
nos dará a certeza das incertezas
que se escondem na penumbra.
Colhe em mãos suadas os pântanos salgados
que as lágrimas criam no infinito.
Rir em silêncio perturbando umas cores
ensaios sobre a cegueira e sobre o fogo,
lavas e correntes na encosta de uma montanha.
Rasgar uma carta de despedida,
um bilhete suicida em perfume caro,
e querer ver o desabrochar de um amor!
Eu sei,
escreves o teu nome em sangue seco.
Só o dia perdura em brincadeiras parvas
em ecos e sons graves
um único olhar cúmplice da vontade,
mas falsário de todas as mentiras que escreves
no teu olhar assassino.
Entrar num carreiro mal iluminado
só a tua mão me guia e me acha,
mas perco-me nas teias da tua saliva que,
aos poucos,
me vai hipnotizando e tirando o sabor acre
que me faz chorar!
Sapatilhas já gastas de correr...
Só os teus gestos que nada dizem me fazem
querer trepar o maldito muro.
Cair no vazio é por vezes a melhor forma de
saber quanto vale a nossa alma.
Deixo o mapa aberto se queimar e,
invento uma epidemia que me fere os pensamentos.
Uma greve, um despedimento...
Amarro meus poucos pertences a uma corda de pano
e atiro-me de pés para o vácuo
da garganta do poço sem fundo.
Só lá na escuridão posso ver a luz que o teu corpo
irradia,
mas sozinho e sem voz
digo que já não há amor e sim uma simples
vontade de poder amar
enquanto o fim da noite se enamora com o fim do mundo!
As mãos que me seguram as faces
estão tão frias
que é impossível eu não acreditar
que morri...
O suave toque do teu sorriso
fecha-se no meu peito
como se as portas do céu se abrissem
na escuridão da minha alma.
Tudo foi dito
mais ficou por dizer.
Mesmo assim, já não te quero amar.
Ricardo Costa
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