Parece que este fogo nos queimou
deixando na pele seca
uma gota molhada de orvalho
parece que este veneno nos curou
matando em nós
os sacrifícios de um buraco ausente
quem permaneceu sentado?
parece que o táxi se atrasou
gozando as drogas
e vendendo as nossas almas aos céus
parece que os ventos se calaram
e os bancos de jardim
se envolveram fisicamente
de quem são os sapatos já gastos?
parece que eles se renunciaram
e os sóis enlutaram
por uma peça de roupa gasta
parece que os filmes se pintaram
e todos os sinais
se negaram em afirmações falsas
quem escreve com as mãos atadas?
parece que as mortes se alegram
os jornais caem
e o chão se conhece melhor
parece que os navios não largaram
as nuvens ficaram sós
e as estradas sem rumo e sem vista
quem deu de comer aos ursos?
parece que os papeis se rasgaram
as vozes abriram as gavetas
e os leões se tornaram homens
parece que os deuses caíram
as saudades governam o mundo
e a ira conheceu a sua família
quem ouviu a música e o silêncio
parece que a verdade se esconde
os narizes se arrependem
e os cheiros se agonizam em saudações
parece que o mundo é quadrado
os sentimentos amarrando-se
e os cavalos correndo com as sensações
quem deixou o fumo entrar em casa?
parece que tudo se acabou
os sorrisos se esqueceram
e as bocas adoptam o ódio perdido
parece que a guerra já venceu
as agonias já procriaram
e os medos receiam todos os olhares indiscretos...
Ricardo Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário