sábado, 18 de setembro de 2010

Parece

Parece que este fogo nos queimou
deixando na pele seca
uma gota molhada de orvalho

parece que este veneno nos curou
matando em nós
os sacrifícios de um buraco ausente

quem permaneceu sentado?

parece que o táxi se atrasou
gozando as drogas
e vendendo as nossas almas aos céus

parece que os ventos se calaram
e os bancos de jardim
se envolveram fisicamente

de quem são os sapatos já gastos?

parece que eles se renunciaram
e os sóis enlutaram
por uma peça de roupa gasta

parece que os filmes se pintaram
e todos os sinais
se negaram em afirmações falsas

quem escreve com as mãos atadas?

parece que as mortes se alegram
os jornais caem
e o chão se conhece melhor

parece que os navios não largaram
as nuvens ficaram sós
e as estradas sem rumo e sem vista

quem deu de comer aos ursos?

parece que os papeis se rasgaram
as vozes abriram as gavetas
e os leões se tornaram homens

parece que os deuses caíram
as saudades governam o mundo
e a ira conheceu a sua família

quem ouviu a música e o silêncio

parece que a verdade se esconde
os narizes se arrependem
e os cheiros se agonizam em saudações

parece que o mundo é quadrado
os sentimentos amarrando-se
e os cavalos correndo com as sensações

quem deixou o fumo entrar em casa?

parece que tudo se acabou
os sorrisos se esqueceram
e as bocas adoptam o ódio perdido

parece que a guerra já venceu
as agonias já procriaram
e os medos receiam todos os olhares indiscretos...

Ricardo Costa

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