quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Orgias

De desatenta orgia são os dias.
Cai qual sábio o tempo, em rente salto
Sendo desfeita a terra que sombria calca,
Vai-se a hora, em mão de raio
as trevas, já tantos mares perderam o jeito.
Qual ódio cresce em papel morto,
o Homem em si, cáustico, saciado de carnes
em fogo que longo se come em torno!
Morre, e o chão seco, de intuito amor
sem tiro no escuro, apaga o resto do dia;
Tantos os seios de Inverno no calor do teu corpo.
Falso céu se de Anjos o Inferno se enche,
dos Homens mortais, agonia, temível
presença de um deus que nem fala, nem ouve.
Rasgados os pedaços de vida, em dores tecidas
de corres garridas, o desabar da sabedoria
quando o comer já assassina mais um relance
de paixão inusitada.

Em supremo amor ama-se igual!
De dia e de noite, de pé e deitado,
sabe assim o gemido lento dos pós mágicos,
dos prazeres que em forma de espada e túnel
se fazem sentir, vibrações, cansaço e rendição.
Assusta a parceria do mal, o nada maduro
da solidão, se já não mais se ouve os suspiros;
lentos suspiros, de uma brisa sobre os campos
de trigo dourados.
Seja assim, a peçonhenta alegria de quem não tem,
o riso histérico de não ser feliz, uma lágrima
de não ter um amor para matar, nem morrer.
Quem tem força que baste, tem força para derrubar
o muro que atravessa as ideias,
mas mesmo assim não consegue voar!
De quem esquece a noite em nós para reclamar o dia
coroado se faz o rei, e bebe se tem sede.
Por um sangue em fogo de uma cara desfigurada
um laço de ira brota dos dentes, e cai,
do ar um leve grão de amor plantado inocentemente!

É esta a era do não ser, o tempo que se esquece
nas taças de vinho e nas lareiras, na cinza,
nos fogos dos corpos semi-nus e nos prazeres dependentes
dos desejos carnais.
Ninguém se faz culpado, ninguém se faz de si mesmo,
quem separa de si a vontade da mentira, em nada
se faz essa glória de poder ser melhor, só a dor,
o semblante pesado dos ombros caídos sobre a cabeça,
as mãos sem nada que segurar,
os braços sem nada que abraçar, os lábios sem nada
que tocar além do álcool!
Bebei, e eles bebem, esquecem e recordam com uma gota
de água da chuva que congela e evapora,
Sem compaixão e sem temor ninguém sabe quando parar!
Terríveis essas orgias de sentimentos, orgias de dias
as misturas de amor e ódio e vingança e desejo...
No fim, nunca se sabe em que local parou a corrente,
e o Inverno do amor nunca mais vai.
Fica-mos frios, qual gelo o bater do nosso coração!

Ricardo Costa

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