segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ter

O ter é uma solidão que se preenche
sob as pontas preguiçosas de uma vida,
de sorrisos, ouro,
e choro.
É o descanso de uma anedota mal contada,
um beijo meio dado.
É o se deitar sobre os lençóis e abraçar suavemente o que está ao alcance do coração!

Ter é a pedra do caminho em que magoas o pé,
é a água turva dum rio,
é a gula de posse que te engana o sentir.

Uma poesia íntima, um amor secreto de uma amante desconfiada.
Uma noite escura,
um desespero...
Ter é um corpo seco de sangue que te atormenta as noites de terrores!

Já se calcou a ilusão de tudo ter, mas nada possuir...

...O silêncio...

O placebo da felicidade, um olhar docemente falso
e um fogo de vida que não arde.
Os nós das mãos com os pés que não desatam e a garganta seca
do não ter,
o desgaste, desgaste, desgaste...
Se não se tem a vida que mais se poderá ter nos bolsos?

Nada...

Quem dará migalhas a quem pede um pão?

Quem dará um dia a quem pede uma vida?

Se nada se pode ter mais do que o que nos é dado.
Que nos resta senão admirar quem tenha, fechar a mão sobre as areias soltas dos mortos e desejar...
ter...

...o desejo ainda o tenho, enquanto o sono durar...sou feliz...

Ricardo Costa

Sem comentários:

Enviar um comentário