quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Morte

Vou morrer assim, gritando
entre o eterno pesadelo nervoso
e feroz
e no vácuo desta ponte, desfaço-me pela
gruta em sangue cego
que agrava o cancro do meu coração.

Todos os sussurros da minha morte
farão a lua palpitar de emoção
quando o mar acordar da sua maliciosa sinfonia.

Deixem as minhas plantas secarem
e morrerem em silencio.

Ricardo Costa

Se eu pudesse...

Se eu pudesse ser a brisa que te fustiga os cabelos.
Se eu pudesse ser um suave acorde de uma harpa de ouro.
Se eu pudesse ser as flores que colhes suavemente.
Se eu pudesse ser o bater do teu coração.
Se eu pudesse ser o romance que tu lês.
Se eu pudesse ser um avião que cruza o céu.
Se eu pudesse ser o fogo que te aquece nas noites frias.
Se eu pudesse mover montanhas.
Se eu pudesse ser um príncipe encantado.
Se eu pudesse ser uma espécie de Deus.
Se eu pudesse ser uma saudade esquecida.
Se eu pudesse amar-te em mentira.
Se eu pudesse chorar ouro.
Se eu pudesse ser um animal selvagem.
Se eu pudesse ser uma onda no mar.
Se eu pudesse aquecer a água da chuva.
Se eu pudesse ser um raio de Sol.
Se eu pudesse ser um dos teus amores.
Se eu pudesse ser um pedaço de vida.
Se eu pudesse ser a estrada pela qual te guias.
Se eu pudesse esculpir o teu corpo.
Se eu pudesse gritar em surdina.
Se eu pudesse ser um poeta de alegrias.
Se eu pudesse com o mundo a meus ombros.
Se eu pudesse ser um bom augúrio.
Se eu pudesse crescer como uma árvore na floresta.
Se eu pudesse ser transparente.
Se eu pudesse adorar sem conhecer a tristeza.
Se eu pudesse demorar a minha morte.
Se eu pudesse ser dono sem possuir.
Se eu pudesse ser um pássaro no ar.
Se eu pudesse ser um bocado do ar nas cortinas.
Se eu pudesse ser a janela do teu mundo.
Se eu pudesse ser um Leão livre.
Se eu pudesse ser uma terra inexplorada.
Se eu pudesse ser um tesouro escondido.
Se eu pudesse ser pirata.
Se eu pudesse sentir o gosto ao sangue.
Se eu pudesse ser assassino sem remorsos.
Se eu pudesse cometer suicídio sem olhar para trás.
Se eu pudesse ser um mero refém.
Se eu pudesse ser uma pequena aranha.
Se eu pudesse prender-te na minha teia.
Se eu pudesse ser um diário da nossa paixão.
Se eu pudesse dizer que ela existiu.
Se eu pudesse ser ladrão.
Se eu pudesse roubar o que levas ao peito.
Se eu pudesse ser como um cofre seguro.
Se eu pudesse dizer que me amas.

Se eu pudesse...

Ricardo Costa

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pequeno Inverno no Verão

E a chuva cai
como de uma torneira ligeiramente aberta.

O cinzento reina
em terras de Sol dourado,
enquanto as raízes do frio
sobem lentamente as paredes
de uma casa
tristemente habitada.

Há um amor perdido
como uma gaivota sente a falta do vento.

Só um chato tráfego de nuvens,
de cá para lá,
e um tempo de ira
que faz vaguear a memória para
outros dias,
outros calores
e sabores de uma alegria
agora ao relento.

São visitas inesperadas
estes Invernos repentinos e malfadados.

E aí existe um triste adeus,
a todo o Verão
e ao antigo céu mais limpo.

Malditos tempos,
que fazem os gritos loucos
as temperaturas descer!
Estes calafrios de agonia
e o choro pela tristeza do dia.

Só vale a pena fechar os olhos
e esperar,
mão no coração
e olhos no céu coberto
enquanto esse Inverno turista
não volta para casa.

Ricardo Costa

domingo, 22 de agosto de 2010

Ascende a uma fadiga

Não espirres! Observa o branco das fotografias e figuras que os teus pés
traçam na areia dura de pedras
e formam palavras para o teu livro surripiado de uma estante perdida.

Dá as vozes aos mudos e remete-te ao teu desgraçado silêncio.

Ascende a uma plácida fadiga,
e deita-te nos ferros pontiagudos que te causam prazeres sádicos.

Abandona as luzes.

Apaga as velas do teu jantar (pseudo)romântico.

Põe-te em marcha lenta para nenhures.

Calca as pisadas passadas e remove cada ramo do lugar,
descalço,
para a dor sem bem real e te lembrares de cada passo.

Pede uma chávena de café gelado.

Forma um sim ao fechar os olhos,
e ensina o derradeiro valor do esquecimento.

Faz-te prazenteiro de amizades que fazes enquanto estás fechado em casa.

Grita em agonia, mas não estudes os gritos.

Sente só a raiva que flui pelo rio que se corre mesmo sem sapatilhas.

Não bebas água.

Cospe para o chão o cansaço que tens de sobra.

Adormece num nada de sítio, sem colchão ou cobertor que te tape,
e, sendo homem, deixa o sangue correr livremente.

Rouba para comer, e faz-te miserável na tua fartura.

Apreende todas as glórias entre os dentes e rasga a carne em encenações canibalescas.

Produz-te todo,
em perfumes e roupa cara, e leva o teu coração
a um suicídio digno de Rei.

Aprende a ser paciente, deixa as horas trabalharem.

Sê poeta falso, sendo a falsidade que julgas ter
um pouco da verdade que queres que seja esquecida pelos outros.

Cansa-te só de respirar e dá o ar que usas a outros.

Planeia uma loucura sedutora, uma enxovia de alucinações que te mantêm calado.

Fala alto,
para as tuas palavras alcançarem qualquer coisa.

Enforca-te numa tarde de Domingo, e tira o brilho a notícias sem jeito de ser.

Conta histórias de embalar à tua morte recém-nascida,
e diz-lhe que todos os buracos são uma nova casa para o teu descanso.

Nunca deixes a tua mão de fora.

Quem pedir para a espreitar, mostra as canções das estrelas para lá do espaço,
e das tentações que pousam no teu telhado.

Dá-te a ti um presente segredo.

Parte os braços ao abrir para teres uma alegria contida pela dor.

Sê comediante de bancada e julga os que andam na vida com as pontas dos pés,
tu que andaste com as plantas rasas
e com mais uns quantos de reserva.

Sobe há tua cama,
e deita-te; dorme; descansa; levanta-te; deita-te de novo;

Regula o teu sono para apanhares a luz da janela do lado esquerdo quando acordas.

Abstêm-te de comprimidos para dormir,
e nunca,
nunca maltrates os papagaios no parapeito.

Ganha juízo de velho e olha sem mexer.

Compra um caderno barato e desenha-te nu, com giz colorido,
e come os restos de frutos que caem da árvore no teu jardim.

Deixa que os furões corram livres para dizer as novidades aos seus amigos.

Nunca digas que estás pronto.

Aguenta a vontade e a ânsia de ser mais rápido, mais forte e melhor.

Lembra-te que o fim é igual para todos.

Faz de ti um carvalho caído no chão da floresta: sereno.

Pisca os olhos em flexões de pálpebra,
e cura todas as agonias numa porção de álcool.

Utiliza a filosofia mundana para preparares o teu folclore,
pinta-te de cores garridas
e sê, por uma vez, a alma da festa.

Anseia a tua liberdade.

Não ocultes os raios de Sol que te queimam as costas.

Não te afogues em lamentos
e permite aos seres do mar nadar sem uma poluição vermelha.

Fica sem saber como poderia ter sido se...

Limita-te a ser levado pela fadiga

Descansa...

Ricardo Costa

sábado, 21 de agosto de 2010

Nunca esperes por ti

Nunca esperes por ti.

Fecha a ganância e a página aberta
de um afago morto
que se arrebata de carinhos no teu colo.

Não deixes os teus olhos verem: cegos.
Tapa a visão com o pano de lamurias aos ouvidos,
mas não aquelas que matam,
mas sim as que ferem e apodrecem o teu sentir.

Pensa em ti como pensas em mim: nada.

Colhe os frutos de uma má colheita,
empina o nariz a portas abertas de boa vontade
e faz-te sombria ao sol
quente na brisa fresca
e triste só por feliz ter menos letras.

Come as letras f do teu vocabulário.

Não mais pronunciarás em silêncio a palavra
que te arrebanha o coração
e te deixa leve e segura no nevoeiro.

Deixa que as horas se esqueçam.

Prende a chave ao pescoço e fecha o amor,
atira-te ao poço só e frio
e agoniza as feridas ensanguentadas das facas rombas
que as verdades empunham.

Perde as forças dos braços para não te segurares a esta vida!

Vê-te nos espelhos dos falsos,
e chora há tua maneira: rindo.

Receia as luzes e os natais, os presentes e os elogios,
morre desconhecida
e conhece-te mais morta.

Fala para ti sem dobrares a língua tal os golfinhos se banham
e as flores se cumprimentam.

Nunca deixes só o revólver,
não vá ele matar-se para que a tua vida seja poupada.

Escuta as vozes dos corvos negros: Tua morte próxima está;
e escreve no teu diário do desespero
o desespero que querias sentir
se já não estivesses morta por dentro.

Arrasta penosamente o teu lamento.
o teu fluir disfarçado de andorinha, de Branca-de-Neve!

Torce o teu corpo nu,
e enche a boca de beijos pré-feitos e secos de calor,
como um fogo gelado
e uma paisagem morta pelo fogo!

Nunca esperes: sentada, deitada ou de pé;
Deixa-te dormir no travesseiro sobre a cama desfeita de metal,
e baseia-te numa dieta de vida,
nunca relances o olhar por cima do ombro para as aves e nuvens.

Bate as janelas e fecha os vidros!

Despe-te para a noite, de papel na mão e escreve.

Mas nunca esperes por ti...

Nada tens a fazer para além de morrer sozinha!

Ricardo Costa

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Uma nova vida

Uma jangada na água,
um espelho partido,
Um reflexo de mágoa,
Um dia esquecido.
Uma tarde de sono,
uma porta aberta,
um papel ao abandono,
uma rua deserta.
Uma janela corrida,
um papagaio distante,
uma escrita perdida,
um sorrir falsamente.

Uma chuva molhada,
um passeio cansado,
um casal de mão dada,
um beijar forçado.

Uma gaveta vazia,
uma garrafa entornada,
uma mulher despida,
um nada de nada.
Um tabaco aceso,
um segredo mortal,
um sentimento preso,
um desejo carnal.
Um avião poisado,
uma fábrica abandonada,
um colar doirado,
um corpo desnudado.

Um amor de verdade,
um sentir encantado,
um sabor de felicidade,
um deixar da maldade.
Uma casa escondida,
uma cama destapada,
uma nova vida,
um choro de criança.

Ricardo Costa

Estrelas cadentes

1.
Entre incómodos de céu,
abandonámos o azul escuro de uma noite.

2.
O fluir das estrelas
e a chuva de poeira nos olhos
troca os trocados olhares por uma só palavra,
e o que cai,
deixa para trás mais que uma leve incerteza do sentir.

3.
O gracejo,
os lábios caídos num esgar
e as mãos que procuram prender o ar entre si.

4.
A ignorância
e a procura do mar que se eleva,
tudo se desfecha numa fotografia desfocada
de milhões de luzinhas
que, num piscar de olhos,
morrem suavemente.

5.
A poesia,
a dor que se esconde em frases
e os sentimentos maltratados.
Dores e dores,
gestos e restos de ser.

6.
Estrelas cadentes,
morte e vida sem duração,
azul do céu, vermelho da ira e sangue.
Assim acaba,
poema e amor,
qualquer coisa da vida,
como uma bela estrela cadente que passa pelos céus.

7.
Vida

8.
Poesia

9.
Morte

10.
Nada mais

Ricardo Costa

Pesadelo

Ó pesadelo; Deus sombrio da realidade,
Pesadelo meu em papel estendido
Sonho pelas trevas convertido,
no meu pesadelo, na minha verdade!

Floresce inútil: pesadelo! Ó vida,
desabrocha tal flor da morte
engole o vil sentir da pouca sorte,
e remete-te à tua essência esquecida.

Sente as lâminas de mil soldados;
Destituída dos anos de vida emprestados,
morres por fim! Ó vida escura!

Murcha como planta no deserto,
aguarda o teu (mau) destino incerto,
numa agonia que dura enquanto perdura!

Ricardo Costa

No começar de uma morte!

Pede um segredo, uma estrela apagada,
e escreve um som desconhecido.

Abre uma porta, um cuspir das verdades,
e senta-te num lugar mal situado sob a calçada.

Liga ao mundo:112;
chama a chama do fogo e da chuva fresca de verão,
escuta nua de alma e espírito
a tua tristeza simulada em contentamentos.

Rasga as roupas, e os quadros,
corre para os candeeiros de rua e seus próprios monstros.

Tudo és tu: sentir; gritos que dás,
toda a musica se cala para os teus devaneios.

Não queres;
E não querendo;
Indecisa:insegura;
Fechas as pálpebras em sintonia.

Nada se faz, só tu,
um longo adeus num suicídio programado.

Tudo:Nada;
Nada:Tudo;

Tu num fim da existência
e no começar de uma morte!

Ricardo Costa

Uma mão cheia

Hoje tenho uma mão cheia,

mas é a vazia que me pesa mais

pois é com ela que agarro o amor que sinto por ti.

Ricardo Costa

domingo, 15 de agosto de 2010

Tu e Eu

Não ouses falar.
O mundo enlouquece entre o aço e cimento
onde caminhas o coração.

Não fales.
Remete-te a um silêncio enganador
e acerta o teu andar no chão.
O mundo está quase a chorar os beijos desperdiçados.

Afoga-te nas lágrimas
e seca os cabelos nas chamas do inferno,
beija-me
como se o amanhã fosse um desenho esborratado!

Deixa-te sorrir.
O mundo perde-se num suspiro,
Tu e Eu
encontramos o caminho para casa!

Vem...

Ricardo Costa

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Atrofios

...e a morte vem,
serena de si,
no encosto das manhãs pálidas

no cair das nuvens
em folhagem rasteira vagabunda pelo chão

falta uma ausência

e uma vontade de comer as palavras

um desaire parado
de uma luz,
cigarros acessos no calor

uma mão que se estende

e o bafo quente de um sorvo de ar!

Um roubo a Deus,
como prece de viver,
só uma dúvida e uma conta

O telefone desligado pendura o fio

solitário

Só não chega a solidão,
paralisia infernal de movimentos
de um bosque tingido de vermelho e amarelo

laranja!

...e a morte vai,
cinzenta de tédio e sonolência,
matando a morte
com risadas histéricas

saindo do museu com entrada livre!

Atrofios
de uma vida com falta de Ser...

Ricardo Costa

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Poesia

Todos os poemas são bem-vindos
quando se assemelham
a sussurros de amor
em ouvidos desprevenidos.

Ricardo Costa

Suave na sua nudez

Suave na sua nudez,
o acordar do teu sentir
beija os versos que as tristezas
forjam amargamente
faces rosadas num corpo
sozinho.

Dou-te os meus olhares!

Nada sentes
embriagado de sentires
e ferido de saberes,
de um rosto exasperado
procrias um som...
Encontras-me nas feridas
de um passeio,
despido num relance pornográfico!

Dou-te o meu coração!

Aguardas em pé
a conclusão do dia falso,
desejando
entre guardanapos caídos
um sonho,
nu de falsidades,
que possas sentir
num desconforto necessário.

Despe-te na tua suave nudez
e fechas os olhos durante o sono.

Ricardo Costa

domingo, 8 de agosto de 2010

Stairway to Heaven

A lenta e comprida escadaria
ao céu aponta
em ligeira inclinação dormente,
os cães do tempo
deixam o Inverno subir pelo corrimão
numa breve eternidade
que desponta como a flor da Primavera.

Os olhos choram-se pálidos
nas mãos ossudas que calcam o tapete
de estreitas compreensões,
e o velho Azul
abre o rosto em nuvens e o diário
de papeis limpos de sonhos,
dormem as gaivotas
e os Anjos
nas portas finais da escadaria doirada.

Foram cantando caladas,
as sombras coloridas das rotinas,
passo em passo
pensando o degrau de defeitos carnais
e gestos ternos de desejos presentes.

As mãos levam o coração na boca
e os gritos nas costas desnudas,
os pés são peso livre
e a tristeza dilui-se em cada pálpebra
do avesso dos dias.

Chega-se livre e Rei de vez!
O sangue que se derrama na subida
pinta as horas enlutadas,
da saliva da nossa vida equilibramos
a paixão pelo mar de felicidades.

Ricardo Costa

sábado, 7 de agosto de 2010

Tempos

Foi nos teus olhos que me perdi do mundo
E nas ânsias das tuas verdades

Medi por inteiro o Amor
que os nosso corações partilhavam.

Ricardo Costa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobressaltos

Como um sorriso despido
sobre o véu tapado
das estrelas

O olhar
desviado no lençol lavado
dos teus silêncios

A loucura edénica
e cúmplice

do teu Amar
apaixonado e indefeso

que caminha demoradamente

não sei se o recebo

deixei escapar a harmonia
das manhãs
que dos teus lábios sedosos
brotavam
como uma cascata de sobressaltos

Ricardo Costa

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Não sei quem te esqueceu

Não sei quem te esqueceu
se eu
se alguém ou outro,
não julgo saber quem te perdeu
nas chuvas
que ficam a música lavada
que ouves
pelas janelas perdidas
num qualquer lugar abafado.

Tu, tão audaz e segura,
esquecida em cima da mesa
rainha desfeita
em domínios queridos,
sem rei e carpete vermelha
para sempre remetida
nos passados frios,
onde a neve te cumprimenta.

Não sei quem te esqueceu,
quem te enganou no bilhete falso
no carro enganado que apanhaste
e naquela mensagem,
em garrafa de naufrago,
que pedia para seres minha
sendo o "minha"
de alguém inverso
e também ele esquecido!

Não sei quem te esqueceu
Não sei quem te perdeu

Eu sem ti
continuo perdido
gostando também
que me oferecesses um pouco
desse esquecimento
que usufruis livremente.

Ricardo Costa

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

As esplanadas não têm nome

As esplanadas não têm nome
e os navios,
passam sem olhar
em busca da frescura e café
de paragens desconhecidas.

As cadeiras
são como árvores sem sombra,
e mesmo na sombra,
as mesas não passam de jangadas
em pau seco,
rolando as areias nos dedos
cada uma valendo um sonho
ou outro dinheiro qualquer.

As esplanadas não têm nome,
não são ruas
não são pessoas,
e os aviões não mais são que escravos,
em trânsito lento,
sentindo em ambos os sentidos.

As esplanadas não têm nome
e, nas noites quentes de Verão,
os candeeiros acesos
são os diálogos perdidos dos guerreiros de Tróia,
silenciosos
e com medo da alvorada assassina de prazeres!

As estrelas no céu
são os presságios de morte,
estreitos raios de luz enfadonhos
e cegos de uma visão do futuro.

A morte é trazida nas bandejas cheias,
em fumos,
bebidas e comprimidos.

O novo dia começa
e ninguém sabe quem é cúmplice da culpa,
sendo o sem-abrigo alvo ideal.

As esplanadas não têm nome,
que sorte...

Muitos morrem sem saber quem os matou!

Ricardo Costa

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Olhos mortos

Vejo-te
a seres Tu,
mesmo Tu,
impoluta
e rara de prazeres

em cadernos

abertos e
vazios
onde Te escondes
e choras
cristais secos.

Vejo-te
a esculpir
em pedra

um sorrir
falso e malévolo
em vestígios
indefinidos
de degustação
mórbida

que te tortura
e
mata aos poucos

como
uma noite suave
que enamora
uma brisa morta

quente

Estás parada
em portas
fechadas e
precipícios simulados

os dedos caem-te
e os lábios
beijam o fumo

Eu vejo-te
no findar das causas
e no raiar
do tormento

trazes tréguas
e porquês

e de mim
te libertas
em mortes encenadas

Vejo-te
no cinzento amar
de amor perdido

e os olhos
fecham-me a visão

dignos de tentar
também morrer
para a dor ir embora.

Ricardo Costa

domingo, 1 de agosto de 2010

O Grande Leão

Numa qualquer savana
entre a rasteira vegetação
vagueia a besta Africana
vagueia o Grande Leão.

Sua juba cor de mel
em suas passadas furtivas
balança como papel
em tempestades enfurecidas.

Vai andando cauteloso
Grande Leão impoluto,
num silêncio precioso
num caminhar astuto.

Olhos procuram, atentos,
uma presa desprevenida,
que num mudar de pensamentos
poderá ficar sem vida.

Numa sombra ele descontrai,
ingerindo sua refeição
numa adrenalina que se esvai
a cada dentada do Leão.

Relaxado, passeando
vadio pela floresta
vai Leão bocejando
desejando sua sesta.

A pureza do seu ser,
permanecerá naquela savana
e aquando do anoitecer
dormirá, a besta Africana.

Ricardo Costa