Nunca esperes por ti.
Fecha a ganância e a página aberta
de um afago morto
que se arrebata de carinhos no teu colo.
Não deixes os teus olhos verem: cegos.
Tapa a visão com o pano de lamurias aos ouvidos,
mas não aquelas que matam,
mas sim as que ferem e apodrecem o teu sentir.
Pensa em ti como pensas em mim: nada.
Colhe os frutos de uma má colheita,
empina o nariz a portas abertas de boa vontade
e faz-te sombria ao sol
quente na brisa fresca
e triste só por feliz ter menos letras.
Come as letras f do teu vocabulário.
Não mais pronunciarás em silêncio a palavra
que te arrebanha o coração
e te deixa leve e segura no nevoeiro.
Deixa que as horas se esqueçam.
Prende a chave ao pescoço e fecha o amor,
atira-te ao poço só e frio
e agoniza as feridas ensanguentadas das facas rombas
que as verdades empunham.
Perde as forças dos braços para não te segurares a esta vida!
Vê-te nos espelhos dos falsos,
e chora há tua maneira: rindo.
Receia as luzes e os natais, os presentes e os elogios,
morre desconhecida
e conhece-te mais morta.
Fala para ti sem dobrares a língua tal os golfinhos se banham
e as flores se cumprimentam.
Nunca deixes só o revólver,
não vá ele matar-se para que a tua vida seja poupada.
Escuta as vozes dos corvos negros: Tua morte próxima está;
e escreve no teu diário do desespero
o desespero que querias sentir
se já não estivesses morta por dentro.
Arrasta penosamente o teu lamento.
o teu fluir disfarçado de andorinha, de Branca-de-Neve!
Torce o teu corpo nu,
e enche a boca de beijos pré-feitos e secos de calor,
como um fogo gelado
e uma paisagem morta pelo fogo!
Nunca esperes: sentada, deitada ou de pé;
Deixa-te dormir no travesseiro sobre a cama desfeita de metal,
e baseia-te numa dieta de vida,
nunca relances o olhar por cima do ombro para as aves e nuvens.
Bate as janelas e fecha os vidros!
Despe-te para a noite, de papel na mão e escreve.
Mas nunca esperes por ti...
Nada tens a fazer para além de morrer sozinha!
Ricardo Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário