domingo, 28 de fevereiro de 2010

LOL

Não sei o que dizer,
vou-me por a inventar.
Como não tenho que fazer,
vou por isto a rimar.

Agora estou nesta de quadras,
poetisando umas coisitas,
são caixinhas embrulhadas,
cheias de coisas bonitas.

Quero uma pelo Natal,
ou pela Páscoa pode ser.
O que quer que seja não faz mal,
desde que seja de comer.

Pode ser um docinho,
não quero coisas amargas,
dá-me então um presentinho
para afastar as minhas mágoas.

Estou para aqui a divagar,
isto não interessa para nada.
Vou parar de atrasar
e escrever mais uma quadra.

Esta vai ser bem fixe,
vais ver que vais gostar.
Quem falar mal que se lixe
quem gosta pode comentar.

Vou acabar isto assim,
o meu poema terminou.
Acabou mesmo no fim,
e toda a gente o admirou.

Ricardo Costa, xD

Cartas de amor não endereçadas Parte II

Quase todos os dias a vejo,
Todos os minutos a amo,
todos os segundos a desejo
è um amor insano..

Contra ele não dou luta,
deixo-o por mim fluir.
Então pára, escuta
deixa-me dizer o que estou a sentir.

É um amor tão imenso,
acolhe o céu e inferno
digo a verdade em pensamento
ao afirmar que é eterno.

Vai de Este a Oeste,
passando por Sul em direcção ao Norte.
É lá naquele sitio agreste
que se nota o quão é forte.

Tão forte que faz ferida,
este amor sobrenatural,
só desejo, minha querida
que o que sentes seja igual.

Porem, não o sei
falta coragem para te abordar.
Não sei como ficarei
se me disseres para não te amar.

Só queria ser valente,
para to dizer sem demoras.
Eu amo-te perdidamente,
em qualquer segundo destas horas.

Amar mais é loucura,
quem nada sabe isso diz.
O meu amor ainda dura,
e enquanto isso sou feliz.

Não te peço muito em troca,
abre um espacinho no teu coração.
Deixa aberta a tua porta,
aceita a minha devoção.

Não preciso muito espaço,
deixa apenas o suficiente.
O meu amor não é escasso
mas caberá perfeitamente.

Ricardo Costa, O Portador do Arco-Íris

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cartas de amor não endereçadas

Deixo o meu pensamento fluir,
visualizo a sua imagem.
Ao vê-la ali sorrir
desconfio se é miragem.

Tão bela, porem sozinha,
rainha feita de cristal.
Não sei se é coisa minha
mas companhia não lhe fazia mal.

A ela digo "sou seu criado",
faça de mim o que quiser.
Posto-me então a seu lado
pronto para a proteger.

Acordo naquele momento,
e vejo que de um sonho se tratou.
Pareceu mais um pesadelo horrendo
onde o meu amor me escapou.

Sozinho choro de tristeza,
a solidão é agoniante...
existe apenas uma certeza,
eu amo-a perdidamente.

Amo tanto que faz doer,
o meu coração despedaçado.
Só não sei se ela o vai querer
se continua neste estado.

Contudo não posso evitar,
esta dor faz parte de mim.
Estou assim por a amar
então estarei até ao fim.

Este amor não desaparece,
durará até eu morrer.
Só queria que ela soubesse
o quanto a desejo ter.

Da próxima vez que a vir,
tentarei a minha sorte.
Porque, só de vê-la sorrir,
sei que a amarei até há morte.

Espero então esse momento,
aguardo a próxima vez que a verei.
Vou-lhe pedir consentimento
para me deixar ser o seu rei...

Ricardo Costa, O Pirata da Ilusão

Obscuridade em quadras

Escondo o meu verdadeiro eu,
por mais de uma vez o fiz,
não sei porque me deu
não sei porque o fiz.

Já estou habituado,
vivo nas sombras, no escuro,
amaldiçoando o meu fado
desejando esse futuro!

O medo não me deixa,
conto com ele como amigo.
A obscuridade não se queixa,
sou eu quem estou perdido!

Os sentimentos são cobardes,
todos fogem de mim.
Menos os que querem a minha liberdade
e planeiam o meu fim.

Já perto da escuridão
vejo algo de diferente.
No momento do Sim ou Não
recalculo o passo em frente.

Sinto a sua presença,
a minha amante de perdição,
o que quer que aconteça
é seu o meu coração.

O amor que sinto por ela
desejo que o saiba...
Abrisse um espacinho nela
onde, por ventura, ele caiba.

Mas como sou cobarde,
não lhe digo que a amo.
Vivo na obscuridade
onde posso ser insano!

Ricardo Costa, O Pintor do Desespero

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Dedicatória ao que não tenho

Deixei as palavras de lado...
Baseie-me no que sinto...

Não fujo mais ao destino...
Ela faz parte de mim...

Não tento esconder a verdade...
Sou seu prisioneiro...

Ela não o sabe...

Tudo se resume a uma única coisa...

O amor que sinto por ela...

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Dura...

Dura... Dura... Dura...
Essa sensação que me desfaz e destrói a base sobre a qual me ergo.
É ela que não me deixa seguir,
mantendo-me preso onde me possa ver sofrer.
Maldita!
Maldita a hora em que o meu coração bateu por essa pessoa,
mas... sabe tão bem!!!
Dou graças então pelo momento em que me apaixonei por ela...
Que confusão!
Já não digo coisa com coisa...
É bom e mau ao mesmo tempo mas perdi-me algures no meio,
agora só sofro...
É o que me resta por isso aceito de bom grado.
É o meu castigo...
Castigo por ama-la!
Ao menos serve de distracção... essa dor...
Ela não dura, mas atenua o efeito da outra que me vai desfazendo aos pedaços...
É a anestesia que ingiro e que me impede de entrar na escuridão.
Mas eu já nem luto, não gosto de desperdiçar o tempo em que posso pensar nela...
O pensamento e a dor variam em proporção directa,
mas não quero saber...
Faça o que fizer, cada vez a amo mais!
Permaneço sozinho lá no meu sítio,
chamando a dor para perto de mim e apertando-a de encontro ao meu peito onde ela se sentirá à vontade...
As lágrimas percorrem-me o rosto triste,
e aquela sensação permanece lá... aquela que dura, dura, dura...
Ela lá vai durando...
O meu amor também,
enquanto penso nela...

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Amo-a

Choro de tristeza enquanto me amparo na agonia,
planeando a minha própria tortura por não a ter a meu lado.
Esta dor cresce dentro de mim lentamente e corrói-me, não sou mais eu...
Agora sei o que é sofrer, sofro quase todos os dias.
Sofro por não a ver...
Sofro por estar longe dela...
Sofro por não ver o seu sorriso e mais valia estar morto nesses momentos.
Amo-a!
Dizem que isso é bom, mas sinto-me a desmoronar por dentro...
o sentimento não é reciproco.
Julgo que ela não deve saber também, nem lhe quero dar esse desgosto,
com certeza merece melhor...
E não é este ser inacabado nascido dos pesadelos dos seus sonhos que a vai fazer feliz...
Contudo, não a deixo de amar!
Se as utopias fossem reais a minha seria com ela,
e viveríamos lá naquele mundo onde o trago da melancolia não nos poderia atingir.
Ai que saudades!
Já não a vejo à algumas horas mas mais parecem anos...
Os segundos, só para irritar, passam mais devagar e a espera para a poder ver de novo é dolorosa!
Mas nada posso fazer...
A luta não me leva a lado nenhum, nem tão pouco a conformação,
encontro-me entre a espada e a parede.
Queria poder gritar... gritar que a amo!
Correr para ela, toma-la nos meus braços e fazer juras de amor eterno...
Mas a coragem nunca foi o meu forte.
Continuo então calado,
esperando pelo momento em que a verei outra vez,
esperando ver o seu sorriso...
Amando-a em silêncio...

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Musa

Escrevo na esperança de a vir a conhecer,
essa minha musa que me inspira mesmo nas mais sombrias noites.
Brindo-a com a minha literatura imprecisa, esboçando um futuro que por entre as nuvens chega a ela...
Todavia não passam de rascunhos...
As verdadeiras cartas de amor estão guardadas no meu coração.
Anseio o momento em que poderei segredar-lhas ao ouvido...
A espera é aborrecida e eu impaciente, dou por mim a procurar refúgios mais vezes do que desejaria...
Mas mesmo a bebida não entorpece o que sinto por ela.
Continuo a mandar-lhe os meus textos foleiros, a resposta tarda e a cada segundo sinto-me mais próximo do abismo...
Recuso-me a cair lá!
Lá em baixo é escuro e assim nunca a veria.
Perto do desespero faço a última tentativa... mando-lhe o texto que conta a história do meu ser...
Esse texto maldito que denomino de pesadelo.
Pelo correio dos Deuses a obra chegará a ela num instante, tenho-me de apresar...
Os preliminares são muito importantes e quero que tudo seja perfeito.
A resposta não tardou muito, como eu previa a insanidade do meu pesadelo transforma qualquer um...
Ela foi a vitima hoje... a minha musa...
Com a sua voz suave chama-me para sua beira, para o seu leito de amor em que serei bem vindo.
Com cautela pergunto-lhe se tem a certeza...
Se ela me quer conhecer e desvendar todos os mistérios negros que me constroem.
A sua determinação é inflexível... largo tudo e dirijo-me para ela...
Juntos brindamos há irrealidade e fantasia...
Mais tarde brindarei há minha poesia!

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

O meu lugar

É lá que me encontro...
Lá naquele lugar que é feito de sombras e onde a neblina camufla o que a visão turba anseia descobrir.
Jogo do foge e esconde que fazemos com as memórias escritas deixadas pelos que ansearam antes de nós...
Somos os seus filhos.
Antepassados recentes que fazem do desejo uma forma de vida...
pobres miseráveis.
Não queria pertencer à sua ceita,
mas os honorários convertem-me num dos seus pilares satânicos...
os rituais de sangue completam-me o horário,
e tingem-me a face de um vermelho vivo que faz nascer a ira e me impede a passagem para o quarto seguinte.
Já não sei quantos quartos perdi...
A lucidez que me resta não para de combater, procura cada rua, cada beco...
Mas qual labirinto...
Perde-se com facilidade nas estradas escuras onde a luz não passa de um mito...
Já desisti tantas vezes que esgotei as tentativas,
continuo a agarrar-me àquelas memórias que são o alimento da minha consciência putrefacta...
devoro-as como um esfomeado.
Infeliz... Sim, infeliz... mas tenho noção disso,
não sou como os outros que tratam a ignorância como amiga de longa data...
Esses são mais infelizes que eu.
Ao menos... estou lá naquele sítio... o sítio onde a escuridão perdura e a amargura é vizinha de todos...
Sou infeliz lá...
Sou infeliz no lugar que me pertence.
Esse é o meu lugar, a minha casa... e estou feliz...
Feliz por poder ser infeliz lá.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Os Incompetentes (Paródia de Os Lusíadas)

O grande otário assinalado,
Que do hemicírculo famoso
Manda leis para todo o lado,
Diabolicamente esperançoso
De ver em trabalho esforçado
O povo lusitano bondoso,
Que com caras de desalento
Espera que ele vá com o vento.

E também a jornada desprezível,
Daquela paspalha que lá anda,
Fazendo uma figura horrível,
De cada vez que fala manda
E mesmo não possuindo qualquer nível
Está a dar-nos uma tanga,
Cantando espalharei por toda a parte,
Isto há-de se ouvir em Marte.

Cessem dos antigos e anormais
Tudo o que não foi alcançado,
Cale-se Santana e outros tais
A fama de nada ter acabado;
Que eu canto parolos imortais
Que têm reservado triste fado.
Cesse tudo o que o outro canta
Que se ergue valor que mais espanta.

E Vós, seres ignorantes, pois criado
Tendes em mi um novo adversário,
Se sempre, em heroísmos, ovacionado
Vai ser de mi vosso reino precário,
dai atenção a meu comunicado
De enorme engenho literário,
Porque de vossas confusões fartou-se Febo
Que já vos mandou "limpar o sebo".

Quero huã fúria grande e sonora
E não de beleza nem de encantar,
Mas daquela pura e estrondosa
Que de tão forte faz assustar;
Quero cantar a vida vergonhosa,
a que esses nos estão a levar;
Que se espalhe e cante no mundo
Deviam estar num poço fundo.

E Vós, Povo Lusitano imutável
Deixais que de Vós se tire a liberdade?
Se nunca vossa coragem foi questionável
Não é agora que sereis cobarde;
Vós, ó novo temor inigualável,
Demoraste, mas nunca é tarde.
Agora em diante todos unidos
Para expulsar os já conhecidos.

Vereis amor por vós em todo o lado,
Pela luta contra o inimigo;
Por vos terdes livrado deste estado
De quem o esquecimento é querido.
Ouvi: Vereis o nome imortalizado
Pelos vossos feitos engrandecido,
E gritareis alto e potente,
Portugal e livre finalmente!!

De longe o vinte vi, majestoso
Que Vénus por pedido me trazia,
Seguro, esplêndido e valioso
Vem como se fosse por magia,
E eu, totalmente esperançoso
De obter a nota que queria,
E com fé que esta métrica errada
Vai ser completamente perdoada.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Retratos

São janelas para um outro mundo,
pedaços de papel onde as cores dão forma à ficção informe...
jornal do dia-a-dia onde procuramos as notícias do que fomos outrora.
Está disponível a versão em braille,
os cegos de coração agradecem-na, os outros também pois nesta altura é o que todos são.
São textos de amor em forma de imagem, esses...
pesadelos coloridos que iniciam um sonho perfeito...
eu gosto de lê-los...
foi lá que me encontrei e reconheci como homem.
Lá persegui os amores que nunca amei,
as vidas que nunca vivi,
as horas que fugi e os minutos de que me escondi...
nesse momento fui feliz.
Brinquei à apanhada com o eu que já fui...
tão ingénuo...
a idade corrói e transforma e todos servem sobre suas ordens...
Fui aconchegado na cama pela minha mãe,
por mais uma vez dormi descansado...
revi pessoas e gente,
chorei enquanto corria para as abraçar...
saudade!
Saudade desses tempos que já lá vão e não voltam mais,
esses retratos divinos ajudam,
mas o desespero de voltar anestesia a felicidade.
As baterias dessa máquina de alegria não são inesgotáveis,
e os retratos tornam-se nas cinzas que pisámos...
com elas chega a morte,
a morte que anuncia o fim do sonho.
Acordamos de manhã e tudo o que fazemos é relembrar,
relembrar todos os segundos daquela aventura...
beijámos os nossos retratos,
e guarda-mo-los lá no sítio deles,
no coração...
onde preparam a sua próxima história.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Capítulo I - A (In)felicidade

Rio enquanto choro,
mesmo assim não percebo a felicidade, agora choro enquanto rio...
a coisa é a mesma...!
Sou desconhecedor da verdade...
o meu pai não me deixou essa herança e eu rogo-lhe pragas por tal coisa.
Já fui a todas as bibliotecas mas nenhum livro me ajudou...
contudo, apreciei um deles...
qual é o título?
"Mata-me e descobrirás!"
Mas mato quem? Não cheguei a descobrir...
o meu curso superior não chega para isso, de qualquer das maneiras nem cheguei a concluí-lo.
Já não sei a quantas ando...
será que estou triste? Será que estou contente?
A puta da felicidade baralha-me e nem a isso respondo direito...
refugio-me na bebida, ao menos sei o que ela é, e a distracção que ela me traz é bem aceite.
Este calor sabe bem... sinto-me imortal...
as balas que aquele assaltante disparou provaram o contrário!
Por sorte não me acertaram...
acertaram naquela minha amiga que me acompanha desde criança...
sim essa... a dúvida...
ela está em coma agora!
E eu? Estou triste? Estou contente?
Continuo sem saber, e esta ressaca nem me deixa levantar da cama...
a cabeça pesa-me... não tenho forças...
pego nas páginas amarelas à procura de ajuda, qual acto de desespero...
ligo para o escritório do Caçador de Sonhos, aquele que tudo sabe,
mas ele não está... foi de férias...
desligo e permaneço deitado...
triste?
contente?
Não sei... não percebo a felicidade...
ou será infelicidade?

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Amante de perdição

Subo ao Céu escuro pela escada que Deus usa,
procuro a sua porta camuflada entre as nuvens carregadas de amargura...
finalmente vejo-a...
lá se encontra a minha amante fiel, a loucura!
A minha companhia nas horas de perdição.
Levo as mãos à cabeça e sinto as lágrimas quentes a percorrer o meu rosto deformado...
elas caem no chão... o oceano engole-me...
dispo a roupa sem qualquer pudor, a força emancipa-se e revela as minhas intenções...
ela nada quer comigo!
Escárnio pelo vil metal que nos separa, rogo pragas ao Inferno e procuro a auto-flagelação...
maldita desta utopia!
Sinto-me preso a ela, as raízes da árvore da morte bloqueiam-me a saída...
que merda de guião vem a ser este?
Contraceno comigo mesmo no palco das sensações da vida...
ai solidão...!
Chamo a loucura... mas continuamos separados...
procuro a fuga desta prisão.
Feito filósofo de merda tento descobrir a solução do meu dilema...
a metafísica nunca foi o meu forte e eu não entendo.
Qual é a maldita solução?
Grito como doido e corro para o arco-íris em busca de suicídio...
mas não consigo... estúpido cobarde que vejo no reflexo da Lua...
quero vê-la mais uma vez...
a minha amante de perdição...
se eu a amo então a resposta deve estar no meu coração!!!
Sim... é isso!
Hummmm.... não consigo abri-lo...
alguém tem uma chave?

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pseudo-análise

Sente a ânsia mas ainda não anseia,
poeta inacabado que transcreve o que sente em textos incoerentes.
Fabrica o destino dele mesmo,
e faz uns biscates nuns outros tantos que não o dele...
diz-se livre...
mas é prisioneiro das sensações,
fotógrafo amador da vida que dispõe em telas.
Chamam-lhe pintor adivinho, porem, tudo o que ele faz é traçar caracteres num caderno barato...
não foi isso que ele quis, mas foi o que a vida lhe deu...
por esta altura já se conformou.
Não luta contra a solidão pois não está sozinho,
consegue devanear sem sair do sítio e ser muita gente numa só pessoa.
Até certo ponto ele é feliz...
o quanto, ele não sabe, sinceramente não lhe interessa...
não cai no erro de medir o que sente, não é matemático.
Segundo ele é um caçador de sonhos...
é esse o seu ganha pão já que depois ele vende-os a quem não tenha os seus próprios...
não é ganancioso, a vida ainda não lhe exigiu isso,
quanto muito tudo o que ele pede são uma caneta e caderno novos...
podem achar pouco, mas para ele chega,
nunca se sabe quando a ânsia de escrever atinge, portanto mais vale estar preparado.
É um vagabundo errante, esse poeta...
diz-se cego da visão, portanto guia-se através dos sentimentos...
até agora não teve nenhum acidente.
Desenha o seu caminho com um pedaço de giz,
e por ele segue em busca de um sítio onde possa ser ele próprio.
Talvez o encontre... talvez não...
mas ele não desiste...
se nada mais lhe restar usará a sua imaginação...
afinal de contas...
ele é um poeta.... e a vida...
a vida é o sonho que ele persegue.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Destruição

Gritos de dor saem da minha garganta e dirigem-se ao céu tingido de vermelho...
formam relâmpagos mudos que dão início há destruição do mundo.
Com eles vem o seu fiel companheiro,
o ódio...
que, como bombas, deixa cicatrizes profundas.
O nevoeiro cai sobre nós...
e como um gás sufocante que corrói, deixa vazio onde à pouco nada havia.
O mar avança... onda a onda...
engolindo a sanidade dos moribundos que por ventura não são mais que tu e eu...
aparece o fogo...mas está adiantado...
ainda não é a vez dele nesta peça macabra.
Primeiro são os tremores...
Eles entraram por pura diversão, não se pode tirar a quem nada tem...
e nós nada possuímos...
só um retracto inútil que serve de recordação da nossa vida passada.
Se eles quiserem isso é só para nos gozar,
atirar-nos à cara a nossa humilhante fragilidade e incompetência...
nós limitámo-nos a acenar em forma de aceitação, pois agora nem palavras possuímos...
neste mundo, se me permitem a ousadia, os ricos são os mendigos,
e com tal, por uma vez somos todos iguais.
O fogo, por fim, entra em acção...
as suas chamas azuis simbolizam a eterna escuridão que se abate sobre nós.
Por estranho que pareça essas chamas não queimam... são chamas geladas...
mas também já pouco interessa...
somos encaminhados para a zona de Check-In...
não nos dizem qual o destino mas hoje somos todos profetas.
Dizemos adeus ao mundo que outrora nos pertencera,
nunca nos voltaremos a ver...
Reina o silêncio no momento de embarque.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

O que serei

O que sou e o que fui...
essas são as questões mais banais que alguma vez me perguntei durante a minha estadia neste hotel de 5 estrelas...
a minha vida.
São fáceis e simples... diria mesmo ordinárias...
o único ingrediente necessário é um pouco de sabedoria,
embora uma pitada de auto-apreciação calhe sempre bem.
Mas neste momento essas questões estão em segundo plano...
fazem parte do passado,
por mais recente que este possa ser.
Uma nova luz surgiu, espantando a monotonia desta vida apática.
É uma nova questão...
é A Questão...
Todas as respostas que demos são a base dela...
esta é a reunião do que temos sido,
é o aperfeiçoamento do nosso eu...
é aquilo em que nos iremos transformar,
e isso vai depender da resposta que damos.
O que serei... essa é a questão...
é o início do novo ciclo, em que assinamos um contracto de longa duração...
as remunerações podem ser elevadas...
contudo os riscos são reais e constantes.
O bom o mau são divididos por uma fina linha que balanceia ao sabor do fado...
dizem que Deus escreve direito em linhas tortas, mas nem ele escreve nesta linha.
Ela vai ser o principal reagente na nossa transformação,
em que o catalisador vai ser a nossa resposta.
O resultado é a passagem na fronteira da linha...
o lado em que entramos só de nós depende.
Infelizmente a passagem é só de ida, uma vez decidido já não há volta atrás.
O nosso eu futuro vai ficar decidido nesse momento...
eu espero ansiosamente por ele...
e rezo...
rezo para não errar na resposta.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Perdi-te...Procurei-te...Não te encontrei...

São momentos agoniantes,
esses que vivo sem a tua presença para me consolidar...
sem ti não sou inteiro, mas sim metade de um todo.
És a massa que nos une,
o fertilizante daquilo que eu sinto por ti...
agora já nem sei o que isso é,
já não te vejo há tanto tempo que as memórias desvaneceram como a luz de final de dia...
e eu nem candeeiros tenho,
apenas um fósforo gasto.
Ridículo, eu sei...
a culpa é minha pois deixei-te partir,
e ainda hoje choro a minha ignorância...
Merda...! Merda...! Merda...!
Por mais que grite e desespere continuo na mesma,
alma dividida que caminha apenas num lado da estrada...
e nem é o lado certo... meu Deus...
já te procurei por tudo o que é sítio, Céu e Inferno inclusive...
não te encontrei, as lágrimas fizeram-me cegar.
Deus... por favor ajuda-me!
Devolve-me a visão para continuar a minha busca...
não te faças desentendido... eu sei que estás a ouvir!
responde... merda!
Agora estou ainda mais sozinho...
já não sei que fazer, ainda por cima estou perdido.
Que raiva!
Sinto-a a percorrer o meu corpo de alto a baixo...
mas deixo-a lá estar... até sabe bem...
sempre é melhor que o frio da solidão que se entranhou dentro de mim.
Quem dera que isto acaba-se...
Eu quero que acabe... Lúcifer? Ouves-me?
Leva-me contigo... não me importo de ser o teu sacrifício...
responde-me... por favor...
Foda-se...
Ninguem me responde... o frio volta a entranhar-se no meu corpo...
e continuo sem ti...

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Ela

Sim...eu sei!
Eu sei que Ela espera nas sombras,
aguardando pacientemente o momento certo.
Ela prepara a sua emboscada...
eu sei que sou a presa no menu de hoje,
por isso a minha agenda está vazia...
não luto contra o destino,
eu sei que não tenho condições para tal coisa também,
portanto não me quero cansar...
eu sei que Ela gosta de ter um pouco de luta,
guardo então as minhas forças com isso em mente.
Eu sei que Ela está bem preparada,
porem, eu também estou...
neste momento sou omnisciente e pela primeira vez não sou cego...
eu sei que sei o caminho
Ela espera no fim dele...escondida...
felizmente não é hora de ponta e não encontro obstáculos...
parece que ganhei a lotaria,
mas eu sei que sou apenas um mendigo...
o meu único pertence é esta vida desgastada que vivo.
Eu sei que Ela sabe disso...
Ela estuda muito bem os seus clientes.
O caminho está a chegar ao fim...
os sentidos Dela estão apurados como nunca,
eu sei o quanto Ela me deseja... sinto-o...
o meu contracto está quase a expirar,
eu sei que a culpa disso é só minha...
a estúpida da minha mania de assinar contractos a termo.
O caminho estreita cada vez mais...
sinto-me sufocado...
eu sei que Ela está muito perto...
o caminho mal dá para eu passar neste momento...
quero voltar para trás... vou voltar...
ora bolas!
Ela bloqueou-me a passagem...

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

Crónicas de um poeta assasino

Já era vivo antes de nascer...
aquele Semi-Deus embriagado pelo seu próprio sangue vil.
Não possui mãe nem pai,
é filho do destino cruel que o trouxe perante nós.
É guerreiro por natureza. contudo não luta,
tem quem lute por ele...
dedica-se inteiramente à sua única função, a única que conhece...
matar...
não distingue o bem do mal, nem tenta,
quantos mais melhor e o registo já vai longo.
A sua aparência nada denuncia,
ele esconde bem a sua demência...
o pior são os seus olhos,
negros e iluminados com um ténue brilho maléfico, notam-se à distância...
Por vezes gostava que fosse diferente,
queria deixar de ser o monstro que é e mudar,
porem, esses períodos de mentalidade sãs logo terminam quando a necessidade de fazer mal aperta...
Já não tem salvação.
Vive na ânsia de ser descoberto, esse assassino,
a discrição é boa enquanto dura, mas nada é eterno.
Uma palavra solta pode desencadear tudo o que ele mais teme,
por isso ele guarda-as, aquelas que são as armas de seus crimes...
as palavras...
guarda-as no seu esconderijo mais seguro,
para lá das portas do inferno.
Não se pode dizer que não é meticuloso,
tratou com facilidade o seu único ponto fraco...
agora não há volta atrás...
O caos reina enquanto o poeta assassino atira as suas mortíferas armas...
a destruição é nítida e o nosso futuro também, já que é ele quem o escreve...
pela última vez pedimos-lhe misericórdia...
a sorte não está do nosso lado...
ouvimos o riso dele enquanto entramos na escuridão.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos