Gritos de dor saem da minha garganta e dirigem-se ao céu tingido de vermelho...
formam relâmpagos mudos que dão início há destruição do mundo.
Com eles vem o seu fiel companheiro,
o ódio...
que, como bombas, deixa cicatrizes profundas.
O nevoeiro cai sobre nós...
e como um gás sufocante que corrói, deixa vazio onde à pouco nada havia.
O mar avança... onda a onda...
engolindo a sanidade dos moribundos que por ventura não são mais que tu e eu...
aparece o fogo...mas está adiantado...
ainda não é a vez dele nesta peça macabra.
Primeiro são os tremores...
Eles entraram por pura diversão, não se pode tirar a quem nada tem...
e nós nada possuímos...
só um retracto inútil que serve de recordação da nossa vida passada.
Se eles quiserem isso é só para nos gozar,
atirar-nos à cara a nossa humilhante fragilidade e incompetência...
nós limitámo-nos a acenar em forma de aceitação, pois agora nem palavras possuímos...
neste mundo, se me permitem a ousadia, os ricos são os mendigos,
e com tal, por uma vez somos todos iguais.
O fogo, por fim, entra em acção...
as suas chamas azuis simbolizam a eterna escuridão que se abate sobre nós.
Por estranho que pareça essas chamas não queimam... são chamas geladas...
mas também já pouco interessa...
somos encaminhados para a zona de Check-In...
não nos dizem qual o destino mas hoje somos todos profetas.
Dizemos adeus ao mundo que outrora nos pertencera,
nunca nos voltaremos a ver...
Reina o silêncio no momento de embarque.
Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos
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