São janelas para um outro mundo,
pedaços de papel onde as cores dão forma à ficção informe...
jornal do dia-a-dia onde procuramos as notícias do que fomos outrora.
Está disponível a versão em braille,
os cegos de coração agradecem-na, os outros também pois nesta altura é o que todos são.
São textos de amor em forma de imagem, esses...
pesadelos coloridos que iniciam um sonho perfeito...
eu gosto de lê-los...
foi lá que me encontrei e reconheci como homem.
Lá persegui os amores que nunca amei,
as vidas que nunca vivi,
as horas que fugi e os minutos de que me escondi...
nesse momento fui feliz.
Brinquei à apanhada com o eu que já fui...
tão ingénuo...
a idade corrói e transforma e todos servem sobre suas ordens...
Fui aconchegado na cama pela minha mãe,
por mais uma vez dormi descansado...
revi pessoas e gente,
chorei enquanto corria para as abraçar...
saudade!
Saudade desses tempos que já lá vão e não voltam mais,
esses retratos divinos ajudam,
mas o desespero de voltar anestesia a felicidade.
As baterias dessa máquina de alegria não são inesgotáveis,
e os retratos tornam-se nas cinzas que pisámos...
com elas chega a morte,
a morte que anuncia o fim do sonho.
Acordamos de manhã e tudo o que fazemos é relembrar,
relembrar todos os segundos daquela aventura...
beijámos os nossos retratos,
e guarda-mo-los lá no sítio deles,
no coração...
onde preparam a sua próxima história.
Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos
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