segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O meu lugar

É lá que me encontro...
Lá naquele lugar que é feito de sombras e onde a neblina camufla o que a visão turba anseia descobrir.
Jogo do foge e esconde que fazemos com as memórias escritas deixadas pelos que ansearam antes de nós...
Somos os seus filhos.
Antepassados recentes que fazem do desejo uma forma de vida...
pobres miseráveis.
Não queria pertencer à sua ceita,
mas os honorários convertem-me num dos seus pilares satânicos...
os rituais de sangue completam-me o horário,
e tingem-me a face de um vermelho vivo que faz nascer a ira e me impede a passagem para o quarto seguinte.
Já não sei quantos quartos perdi...
A lucidez que me resta não para de combater, procura cada rua, cada beco...
Mas qual labirinto...
Perde-se com facilidade nas estradas escuras onde a luz não passa de um mito...
Já desisti tantas vezes que esgotei as tentativas,
continuo a agarrar-me àquelas memórias que são o alimento da minha consciência putrefacta...
devoro-as como um esfomeado.
Infeliz... Sim, infeliz... mas tenho noção disso,
não sou como os outros que tratam a ignorância como amiga de longa data...
Esses são mais infelizes que eu.
Ao menos... estou lá naquele sítio... o sítio onde a escuridão perdura e a amargura é vizinha de todos...
Sou infeliz lá...
Sou infeliz no lugar que me pertence.
Esse é o meu lugar, a minha casa... e estou feliz...
Feliz por poder ser infeliz lá.

Ricardo Costa, O Caçador de Sonhos

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