sexta-feira, 30 de setembro de 2011

No teu rosto em silêncio, pequenos momentos

No teu rosto em silêncio, pequenos momentos,
De sorrisos falsos e olhares esquecidos.
Palavras que soam em tons cinzentos,
Do cinza que faz a tristeza dos vivos.

Ricardo Costa

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Meu coração o que é que esquece?

Meu coração o que é que esquece?
O que é que sente, em vão sentido
O que o esquenta ou arrefece
O que o acha ou deixa perdido.

Sem qualidade para ser verdadeiro,
Verdade é que, na verdade, não o sinto
Se morrer, morre guerreiro
Entre as verdades que lhe minto.

Ricardo Costa

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ignoro o que ao certo seja ser

Ignoro o que ao certo seja ser
Pois momentos há que nada existe
Para além de uma ânsia de querer
Que, enquanto vivo, persiste.

Há momentos que sou mais, ponto!
Há os tais que nem me sou,
Procuro-me - nada encontro,
Ignoro-me... e lá estou.

Ricardo Costa

terça-feira, 12 de julho de 2011

O ódio, não me fica, se não o tiver

O ódio, não me fica, se não o tiver,
E se não tiver, nem que não seja meu
Nada tenho pelo que me valha viver
Ao deixar tudo que me fazia ser eu.

Não quero amor, quando o há de graça,
(Quero antes uma memória que não sei)
Um pedaço de ódio que não disfarça
A tristeza do que nunca mais serei.

Ricardo Costa

domingo, 10 de julho de 2011

Tudo muda, nem sempre se é igual

Tudo muda, nem sempre se é igual,
Nascem novos, bons, inícios.
Desde o querer ser especial,
Ao esquecer os velhos vícios.

Depois, encontra-se o verdadeiro ser,
O destino: ou esperança.
É importante não esquecer,
Que toda a alma tem diferença.

Ricardo Costa

Porque nada se pode sozinho, nem amar

Porque nada se pode sozinho, nem amar,
Quanto mais tu, menos eu, mais solidão,
Aquele mau amor, tantas horas a s'afogar
As mãos, essas dadas, numa errada emoção.

Ricardo Costa

Gostava, de verdade, de nada ter

Gostava, de verdade,
De nada ter que tenha meu,
Sentir só a saudade
Daquilo que já não sou eu.

Não ter nada que me valha ter,
Ser eu próprio a perdição.
O caminho que leva a esquecer
...a alma e o coração.

Ricardo Costa

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O amor, como os corpos, como eu imaginava

O amor, como os corpos, como eu imaginava
Regressa ao seu cíclico torpor.
Ora é Sol, água e madrugada
Ora é chuva, sangue e horror!

Mas apenas os corpos ficam, no amor,
E tudo mais é plena fantasia.
É o que fica por mostrar - a dor!
É o que fica por fazer - a alegria!

Ainda assim, forcemos os nossos corpos
A viver como quem quer amar!
Porque a dúvida de ficarmos mortos,
É pior do que não o tentar!

Ricardo Costa

sábado, 25 de junho de 2011

Abecedário erótico

Abraça-me
Beija-me
Cheira-me
Despe-te
Excita-me
Fode-me
Geme!

Hummmmmm!

Improvisa!
Junta-te
Lambe-me

Mostra-te
Nua

Orgásmica!

Penetro-te
Quero-te
Repete-se
Suspiras
Tremes
Uivas
Vim-me
Zás!

Ricardo Costa

Já que...

Já que de cada beijo
Nascem os Adeus,
Beijemo-nos sem conhecer o amanhã!

Talvez, a pouco e pouco,
Perceberemos que o outrora
Foi o nosso melhor momento.

Ricardo Costa

sexta-feira, 24 de junho de 2011

azar o meu

Não tenho que me reste, apenas mais
que um desejo de amar
e de sentir.
Embriagando-me: novo de sentimentos
Sem medo de não ser compreendido,
só querendo...
Porque não sei não a querer
[azar o meu]

Ricardo Costa

Perfeição?

Quem já mediu a exactidão
Do que é o perfeito
Nada mais sabe que as tristezas
da imperfeição.

Nada existe sem o defeito
De errar por amor.

Ricardo Costa

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pessoa

Era louco, dizia ele, e sem razão,
Perdido em louca memória.
A sua vida corre por sua mão
A sua mão voa em tamanha glória.

E era débil, inofensivo e triste,
Triste como quem não ri ou ama.
Se essa tristeza, a fluir, existe
Flui como o calor de sua fama.

E sonhava como quem sonha acordado,
Inventando Eu's sem o querer.
Foi génio, entre génios, iluminado,
Foi Pessoa, ou tantas, até morrer.

Ricardo Costa

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Se a alma que sente é de gente

Se a alma que sente é de gente!
Quero, então, não a ter:
Para ser um pedaço dormente
Do que, hoje, teria de ser!

Quero-me assim: sem existir.
Basta para que me baste viver.
Se a alma ajuda a sorrir:
Sorrirei sem que nínguem possa ver!


Ricardo Costa

Reviver

A vida é breve, o medo eterno:
Nem um nem outro me dá.
Que me baste tamanho inferno,
O que será: será!

Ao vago, o mistério:
E à vida um novo nascer.
Ao medo, o seu império:
A mim: O reviver!

Ricardo Costa

Levava os olhos

Levava os olhos, somente.
Para pisar certeiro sem errar.
À noite, o caminho entre
Duas pedras ao luar.

Ricardo Costa

domingo, 29 de maio de 2011

Há som

Há som. Em mim há sono.
Há a tristeza de adormecer.
Nas mãos, há abandono
para o lento desvanecer.

No ser que tenho guardado,
está sobre tudo a sonhar.
A vivência de um pecado
Quando o sono me acabar.

Ricardo Costa

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vozes

Vozes
Vais ouvi-las
Em tom alto
E só em tom

Vozes
Vais ouvi-las
E as vozes farão assim
Como tu
Que ignoras

E por vontade do chão
Se roubassem o eco do barulho
Os teus ouvidos
Ficavam mais limpos

E mais sós...

Ricardo Costa

domingo, 15 de maio de 2011

e tu

e tu,
sempre tu,
num redopio de sombra

e eu,
nunca eu,
num pedaço de luz

é impossível
inventar fantasias!

Ricardo Costa

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Demónios

Destoam, raivas enlutadas, esses sádicos
Mal-dizeres que trazeis ao peito
E com que mordem os canibais sem jeito
Fumam e renunciam com vagar
Por uma onda de desejos satânicos
Que se desconhecem de algum lugar.

Mas existe tal fascínio pelo mal,
Pelos odores estragados
Valentes sorrisos enlutados descurados
Do querer erguer o vendaval
O Sinal do esquecer a mentira
Sem vida que viva e morra de seguida
Lá está o Réu!

Porque escuridão é só escuro
E quem rasteja no céu são os vagabundos
Deuses ignorantes de outros mundos
Quem sabe dos profundos
Se Belzebu desceu e comeu da sua carne
Para alimentar as trevas
E as pessoas, lerdas, nem sonham
Que não mais há céu!

E nem do amor e sacrifício
Provém vontade e claridade
Demónios levem, levem a verdade
E deixai a estes, que aqui proliferam
Não mais que um presente
De eterna solidão!

Ricardo Costa

terça-feira, 19 de abril de 2011

Há saudades que não se dizem!

Há saudades que não se dizem!
Porque morrem na garganta antes
Tudo nasce:
Tudo morre;
Não desejemos um final feliz
Mas um futuro
Em que se fale de peito aberto:
Entre eu e tu.

Ricardo Costa

Colhamos flores

Colhamos flores
como quem colhe
uma vida perfeita.
Assim saibamos
viver como quem vive
de olhos fechados.

Ricardo Costa

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um mendigo relatado...

E eu acho que estão todos tramados com a falta de jeito e infortúnio que
caça os pulsos com mãos de aço e não lhes deixa balançar o corpo em tom de saudade,
só os deixa comer e deitar,
como aquela pobre pedra da calçada que nem tem onde cair morta e anda a mendigar
pedaços de sol para aquecer seus campos de poeira...
E eu quis fazer como ela...e como eles...Abandonar-me às velas soltas do barco em terra
e crescer descontroladamente com álcool no sangue e
sangue na boca de cair tantas vezes, e sujo de me levantar da terra que comi e com
que enchi o estômago e fiquei com fome mais uma vez
tanta que me fui comendo aos poucos sem me importar se desaparecida e sem me importar
com o cheiro que a minha carne tinha.
E era um sensação de júbilo e desespero, quase de alegria, se tivesse jeito para festejar
atirava-me de uma ponte abaixo só para ter a ideia que ia morrer contente,
mas falhava o alvo por não ser bom em nada...só nisso mesmo é que me fazia bom
já que só precisava de ser eu.
E quando me esquecia de quem sou? E aí perguntava mas nínguem me conhecia porque era
sujo e feio e não falavam para mim,
e eu perguntava outra vez e eles ameaçavam com a polícia ou atiravam-me pedras e diziam
para ir tomar banho ao rio para ver se tirava a negrura do meu corpo
que lhes causava impressão e podia sujar as suas vestimentas janotas.
E eu ia.
E era então que me lavava e quase me afogava naquela água de 5 centímetros de altura que saía
do cano de esgoto, e adorava o cheiro que vinha,
uma vez veio um cheiro a pizza que me satisfez durante uma semana e meia
e me deixou todo orgulhoso de mim mesmo até me expulsarem do restaurante em que ia gastar
os meus 10 cêntimos que roubei ao chão.
E eu podia retaliar, mas do que serviria se eu nem português sei falar direito, vinha eu com o
meu triste vocabulário e eles a falar de juros, pib e inflação
e eu a olhar como quem olha para um pedaço pão com manteiga que voa no bico de um melro
e depois cai na água. Não.
Eu fico mas é calado e viro as costas porque a saída fica sempre atrás de mim e é um caminho que
conheço muito bem
de cor e salteado...

domingo, 27 de março de 2011

As paredes do meu quarto

Resolvi pintar as paredes do meu quarto em tons de arco-íris para que cada cor me lembre de ti.
Primeiro,
vou comprar as tintas
não podem ser qualquer umas, têm de ser daquelas brilhantes e bonitas
depois,
é preciso pincéis e daqueles rolos grandes (que não me lembro do nome)
e também umas escadas para chegar ao céu
por último,
acho que também vou comprar alguma coisa para proteger o chão.
Agora que estou mais leve da carteira
é fácil levar isto tudo para o meu quarto,
só falta agora decidir por onde começar.
A parede maior
aquela mesmo à frente da cama
vou pintar de violeta
a tua cor preferida
Assim quando acordar de manhã e olhar em frente
irei lembrar-me do teu sorriso
-haverá forma melhor de acordar?-
A parede atrás da cama
a primeira que vejo sempre que entro no quarto
essa vou pintar de amarelo.
Assim sempre que chegar a casa cansado e desanimado
vou-me lembrar daqueles dias solarengos que passamos juntos e
aquelas coisas de alegria instantânea
irão me fazer sentir muito melhor.
- que pena só ter cinco paredes no meu quarto-
A parede do lado esquerdo
a da janela que dá lá para fora
vou pintar metade laranja e metade indigo.
Assim mesmo que esteja um dia chuvoso e escuro
se calhar de eu olhar para esse lado
vou ser feliz.
O laranja irá me recordar o teu fruto preferido
logo irá me fazer lembrar de ti
do teu cheiro
do teu sabor
e o indigo - nobre cor essa
irá me fazer lembrar os teus lindos olhos límpidos
e de todo o amor que deles brotam.
A parede oposta
a do lado direito, aquela que tem a cómoda,
e alguns desenhos disparatados
- e muito feios por sinal -
dos meus tempos de criança rebelde,
essa mesma vou pintar de vermelho e de verde.
Assim quando olhar para esse lado
nem que seja de relance
nem que seja num milésimo de segundo,
o verde irá me fazer lembrar da nossa primeira noite
sabes, aquele suave lençol verde,
e o vermelho
esse vermelho irá me recordar a paixão e o amor que sinto por ti
sendo assim impossível não to dizer
pelo menos uma vez ao dia - ou muitas.
Por fim, o tecto,
esse vai ser de cor azul
- eu disse que queria uma escada que chegasse ao céu -
e vou pinta-lo no tom azul do céu claro e sem nuvens
para que
quando estiver deitado e olhar para cima antes de dormir
me lembre de sonhar contigo
me lembre de tudo o que somos
e de te ligar pare te dizer uma última vez esse dia que te amo.
Sim
vai ser assim que vou pintar o meu quarto
que achas meu amor?

Ricardo Costa

R"(E)U"A

As ruas deste caminho já não se conhecem,
nem ao sol
ao mar
nem aos restos de orvalho da manhã.
Viram as pedras da calçada abandonarem à pressa
e as passadas dos cães que se ouvem ao longe,
os pedaços de aves no chão como mau augúrio
ao choro do vento
ao riso das lágrimas da chuva
que bate, desconhecendo, por bater a quem conhece
sem lembrar a quem
sem sequer pedir
quem quer que viesse sem avisar,
e o não saber como uma carta mal endossada
pendia das varandas que encimavam as ruas.
Ninguém.
Ninguém quer mais saber de coisa alguma
se é árvore - corta
se é pedra - move
se é corpo - ignora
também a doença do coração
e da cabeça
e da manhã e da noite
como se fosse isso
como se fosse vivo.
Eu vivo!
Não lembro. Não sou isso.
Todos perguntam, mas ninguém quer saber
na verdade
é mentira que se interessam
só querem não conhecer, morrer em paz sem saber
o esquecimento
como quem esquece e não lembra a rua que tão bem conhece,
e então faço-me de rua,
Rua D. Pedro III - aquela rua do carro abandonado e dos ninhos de gatos vadios que choram de fome e frio.
Rua Mário Augusto Felgueiras - aquela da loja de armas no canto esquerdo do edifício degradado cheio de graffitis nas paredes.
Rua de Cima - aquela perto da estrada nova e do centro comercial a que ninguém vai.
Rua de Baixo - aquela estrada de bois que ninguém usa.
Imagino ser alguém
Nesses momentos vagos do perfume do sonho
que começa e acaba sempre da mesma forma,
começando e acabando
acabando e começando
e à noite, quando for hora de ir deitar,
gosto de lembrar
toda a gente que passa e não liga
sabes, como fazem ás ruas,
e é por isso
por esse mesmo motivo
que adoro ver o mundo pelos meus olhos cansados
e, ainda assim,
viver como a Rua do Sossego
amar como a Rua das Paixonetas
e dormir como a Rua da Felicidade...

Ricardo Costa

domingo, 6 de março de 2011

Meu não ser, tenho, que já não possuo

Meu não ser, tenho, que já não possuo
E nunca tive por começar
Tomara saber isso, obra divina, por mim
o resto dos dias são da loucura repetida.

Nada por nada: Nada em mim
Assim talvez, quem sabe, nos Deuses que não vejo
Lugar em seco de anos e raízes
Que do jardim, minha mente, me mente também.

E da beleza, quem goze com ela, eu não
Me fecho em par, inteiro, só e meu
Me tirem a morte e os olhares expressivos
Que me queimam as posses e os mares de outrem
Sem me deixarem abrir porta que seja.

Ricardo Costa

sábado, 5 de março de 2011

Depois, quer-se mais

Um sussurro entre as sedas
Noite entre pingos de luz
Suaves toques de maresia e aromas vários
Prazeres e plumas
E o céu a descoberto

Gemido intuito
A um beijo contrabandeado
Do fundo do escuro branco
Um riso disfarçado

A confusão de pernas e braços
Volúpia de sensações
Tentações e tensões
Olhares desligados e suares quentes
Quase exagerados

Olhos marejados de pérolas
A língua irrequieta de sabores
Aos seios, ás pernas e ao resto
Audácia do grito sádico
O cair da rede por momentos
e a avalanche de firmeza - dentro e fora!

Os arrepios
A saliva
A erecção
O desanuviar -
- O beijo de despedida.

O levantar de manso
E o voo dos lençóis poisados

A tristeza da partida
E os gemidos de querer mais
Mais, mais..

Ricardo Costa

Sentir-me enlouquecer

Já nada sei que nada saiba
Se algum dia vim a saber
Em mim - a ligeira raiva
Do sentir-me enlouquecer.

Ricardo Costa

terça-feira, 1 de março de 2011

?

Vem, que de rápido se erguem os dias
e ainda há pouco o soluçar findou,
mesmo sem estares com o teu vestido violeta
e as flores não mais aquecerem.
Isto é o medo da inversão das ideias,
O inverso da luz do sol
e o transverso da idade velha.
Vem, a caminhar por esses pequenos passos
por debaixo das tiras de pesadelo
que o meu corpo estende no chão
(será inútil esse riso enganado),
quando vieres deixa o que falseaste na entrada
do jardim morto.
Tem inspirações espontâneas de coisa alguma
e de nada também.
Vem sem vires, mas vem na mesma
que eu não gosto de ter gente comigo quando estou só.
Terei que ser eu por momentos
e tu por outros, já que te resolves a esconder da verdade,
terei que agonizar a matéria
e mentir caso necessário para que vivas descansada
e me deixes dormir ao fim do dia.
Mas vem, não deixes de vir com um sorriso na face
mesmo que seja um sorriso triste
e por dentro nada mais sintas que uma alegria contida
pelo desastre.
Com o maior do respeito, te porei fora de portas
que cá dentro não cabe tamanha arrogância!
Vem de avião e chega de barco com um carro no bolso
e viagens na cabeça,
tira areia dos ouvidos das ilhas salgadas que viste
e molha o chão com os pedaços do céu que roubaste.
Vem depois disso tudo de novo
que quero viajar contigo para os locais de onde vens.
Não te esqueças
porque eu só me lembro de não te querer aqui.

Ricardo Costa

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Não pesa que vivas, ou ames

Não pesa que vivas, ou ames
Em torno do simples atraso
Oh, que alegrias infames
Essas do mero acaso.

Que a sorte nos fez loucos
Desfaz o chão ao olhar
Não ames, então, aos poucos
Fá-lo a multiplicar.

Nos cúmplices e soltos tempos
Deixa rezar a quem o quer
Qual sorte, doces momentos
Do açúcar de viver.

Ricardo Costa

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fragmentos

1

O som que o nada faz,
ferve de solidão,

e só se ouve, quase,
o nó da garganta a estalar

para lá do céu morno.

2

Grande
e
Pequeno

Assim é o coração
como um cego o vê.

3

Tu vais e vens
como quem vem e vai

e é assim, vazia,

que te assemelhas a mim

4

As horas dizem as horas
que o medo cura com sono

se é de relógio errado

fecha os olhos e dorme
com medo de acordar morto!

5

Os mares são tantos como são os céus,
só que nínguem se importa.

Ricardo Costa

/19.

Em cada lágrima tua
há um comboio
que me leva onde os pés
não chegam

Ricardo Costa

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando acaba é........Fim!

Fim. Quando tudo se acaba
E pouco não se arruinou
O que fica, sendo nada
é, mesmo assim, o que ficou.

Ricardo Costa

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dos muros

Não temos o mar
que fazem os muros

- nem eu

Ricardo Costa

Os instrumentos da loucura

Que chorem as demências
no atroz
derrame das palavras

Que se dê aos loucos
o silêncio dos mortos

e os deixem beijar
o chão
como quem planta diamante

Ricardo Costa

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Só a sonhar (Glosa)

Lembro-me ou não? Ou sonhei?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.

Fernando Pessoa - Lembro-me ou não? Ou sonhei?


Lembro-me ou não? Ou Sonhei?
A noite por mim a ir
Como uma vida que não terei
Um vazio lentamente a fluir.

Flui como um rio o que sinto
E nem sei se Homem sou
E não é nada que seja distinto
O que de mau ainda ficou.

Sou já quem nunca serei
Uma coisa sem o preenchimento
Uma coroa sem o Rei
Um pedaço de vadio desalento.

Na certeza em que me minto
Julgo não me acreditar
Que o que lembro, já não o sinto
Que o que sinto, já é sonhar!

Ricardo Costa

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um poema

O poema acaba sempre que devia começar. No início
Deixem-no vaguear pela tinta de toque suave
Letra a letra, palavra a palavra. Sem desperdício
Até que o ponto do fim apareça e o acabe.

Deixem-no dormir de sono, e hibernar na solidão.
Comecem a leitura a meio e acabem onde começa
Aí sim, desapertem as correntes ao coração
E recebam o fim, que do papel tropeça.

Ricardo Costa

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Não fui quem julguei ser

Fui tudo que não pude ser
Concluindo, não fui nínguem
Morri sem sequer viver
esquecido de ser alguém.

Alimentei-me de pensamento
Já que morto estava
Engordei de desalento
E lembrei-me de ser nada.

Tivesse eu sido vivo
E lembrado de esquecer
Que mesmo se esquecido
Não fui quem julguei ser.

Ricardo Costa

Loucura não é mais que uma maneira de amar

Enalteço a loucura
pesam os tijolos
e os relógios errados

pelo chão
um coração molhado

pelo ar
um nome que não se lê

loucura
não é mais que uma maneira
de amar.

Ricardo Costa

o passar

Um Outono é tão breve de segurar!
Os seus sóis doirados olhamos
de fascínio preso; passamos
à fantasia que é relembrar.

Depois da noite, cresce
O desprevenido da excitação.
Se nada é Inverno que nos tire o sono!
Que levemente desaparece
Tais os cordões do coração
Que se vão rendendo ao abandono!

Uma folha entre o sonho e a poeira
Da Primavera em enlaces falsos
O estender na relva molhada
O ligeiro prazer da cilada
Do molhar dos pés descalços
Quando o Verão aquece na areia.

Ricardo Costa

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Levanta-te, pois quero que acabes

Levanta-te, pois quero que acabes
Se me dóis tanto como pesas
Saudade, antes que me mates
E reclames proveito de tuas proezas!

Ricardo Costa

Inverno

Passeia na floresta densa
Um som de ouvido mouco
Uma sonoridade intensa
de um rugido quase rouco.

Abraçando-se no arvoredo
espreguiçando-se pelo chão
Um início em segredo
Do final de uma estação.

Ricardo Costa

Frio da noite esquecida

Um frio solto vagueia o ar
Indistintamente contra o céu
Que vai indo com o luar
Nada ficando que seja meu.

Leves poeiras cruzam pelo vento
Vagas nesse mar de saudade
Sem vela, triste desalento
da pobre mentira da realidade.

Como se de tudo mais houvesse
Uma aragem de calma despida
Já que não mais o tivesse
- O frio da noite esquecida.

Ricardo Costa

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quem me dera ser triste

Quem me dera ser triste
Se alguma coisa pudesse ser.
Mas pode quem não existe
Alguma coisa tentar obter?

Ricardo Costa

domingo, 23 de janeiro de 2011

Menina

Ai, como eu queria em ti um céu
dessas flores em volta da estrada,
nesse teu precioso véu
em que debaixo te mantens calada.

Menina - Quem me dera ser quimera!
E ladrão de tamanhos feitos
Sobretudo - Ai, quem me dera
afagar minha face em teus suaves peitos!

Queria-te, de uma ou de outra maneira.
Em teus frenesims de calor humano,
para quem sabe - a vida inteira
sendo que não quero estar em engano.

Ah, esses teus limpos olhos marejados
que ao leve vento só arrepiam!
E é com eles, que pobres coitados
pela noite dentro fantasiam.

Peço teus beijos entre parapeitos e janelas,
peço teu corpo sem pudor de notar
- Mas, tal e qual antigas donzelas
ris-te e escondes-te sob o azul luar.

E eu, sem nome, que assim sou
lutador por minha forte natureza
- renego o desespero do que me azarou
e fico lutando por sua beleza!

Menina - Quem me dera pra sempre viver
para que sempre te possa olhar
Ai, que agonia esta - a de não te ter
e saber que não te posso não amar!

E se - cruel destino cair em mim,
sem que possa teu coração ser meu
Gostaria que acaba-se assim:
- "Meu coração será sempre só teu!"

Ricardo Costa

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sei que este é o mesmo sol

Sei que este é o mesmo sol
[nestes mesmos risos]
o mesmo adeus se diz
[venho dizer adeus]
então, sou triste!

Ricardo Costa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Noites e Dias

A noite deu-lhe para acabar de manhã.
A manhã essa, corre, é noite!
Ah, que me foge e não fechei as mãos...
Desde ontem que estou hoje e amanhã!

Inequívoco? Nada!
Coisa alguma...
Nem sei se acordo ou se vou dormir,
Nem sei que dia é o que passou
O nevoeiro cresce!

Verdade - Amanhã é hoje adiantado!
Mentira - Amanhã posso viver se hoje estiver morto!
Verdade - Esqueci das horas no bolso do casaco...

Bem sei, a noite acaba e o álcool abunda.
Dêem-me um copo e me afogo em seus mares de cristal dourado
Dêem-me tabaco e me mascaro de fogo-posto
Dêem-me uma almofada e não sei que lhe fazer...

Por na cama? Saí da cama?

Não exagero, as trocas voltaram-se sobre o inverso de si
Ai.
A cabeça lateja, os pés ameaçam
Tenho tido o dia mais longo que não me lembro
E estou a começar no fim...

Fim? Início?
A noite deu-lhe para acabar de manhã
nesta manhã de ontem
hoje?

Ah, que dia é hoje?
Nem sei...

«sssssssssss, sssssssssss...... ssssssss, sssssssss» o burbulhindo
dos infelizes continua lá fora
e eu espero que alguém me recorde o dia

«sssssssssssssssssssssssssssssss»

Ricardo Costa

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Álcool

Não é ópio e tabaco enrolado,
não é fumo nas narinas...
O que é - líquido mascarado,
álcool puro e toxinas.

Ricardo Costa

Pelo teu corpo passam navios

Pelo teu corpo passam navios
Pelo teu sorrir águas vão
Pelos teus olhos que são rios
Flutua teu leve coração.

Pelos teus ombros corre a Lua
Pelas costas uma brisa de ar
Que pelo corpo é toda tua
A brisa desse teu quente mar.

Ricardo Costa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sereno aguardo

Sereno aguardo o tardio fim
De qualquer coisa que não tenho
De uma metade cortada em mim
De um corpo que já estranho.

Não sou adepto do esperar.
Na verdade, apenas, não sou
Sendo que gostava de acabar
Começando no fim que tardou!

Ricardo Costa

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tudo me prende a tudo

Tudo me prende a tudo
se tudo quanto sou
é um nervoso miúdo
de um amor que despertou!

Não existo sem tudo ter,
Não tenho tudo sem existir...
Não penso no querer
baseio-me no sentir!

E tudo é esta incerteza,
esta cousa de não saber!
O amor e a tristeza?
Ou a dor e o prazer?

Ricardo Costa

Nada me prende a nada

Nada me prende a nada
se a nada me prendi,
e sem nada, pobre coitada
desta alma que não se ri.

Qualquer coisa me valia,
se ao amarrar pudesse
fingir que existia
ou esquecer que o soubesse.

Quero ser corda de laço
com cego nó apertar
ficar em embaraço
e, desembaraçado, des(a)pertar!

Ricardo Costa

domingo, 2 de janeiro de 2011

Pudesse eu ser nevoeiro

Pudesse eu ser nevoeiro
e brincar de cinza cor,
sendo meu coração inteiro,
inteiro de não ter dor!

Ricardo Costa

sábado, 1 de janeiro de 2011

Se como só não estou

Se como só não estou
estar se querer não quero
se sem estar já não sou
e nem quero, desespero!

Se como feliz não deixasse
de tristezas me fazer,
se de felicidade não bastasse
recordar para esquecer.

Dos encantos me sirvo, nada,
de escravo me faço ensinado.
Não é mais que assim acaba
do que mais houvesse começado!

Melhor que o nada que ficou,
é o tudo que não foi visto.
Se como só já não me estou,
se como assim já não existo!

Ricardo Costa