quinta-feira, 24 de junho de 2010

(Pres)Sentimentos

I
Nunca é vão
de forma inglória
todos os sorrisos de amor,
que na brisa da
manhã te mostro
em abraços a felicidade
que se enreda nos teus cabelos.

Nunca é demais
Imagina só.

II
São sentimentos já...
tudo o que lhe quiseres
por na frente,
sendo tão distraída
enquanto andas de mão dada
contigo mesma,
ou com outra mão apenas,
ou sem nada
e seguras o vazio
que pesa mais que uma vida
cheia de ar.

Que mal tem se sabes
onde eu moro prisioneiro?

III
É um toque desenfreado
que te roça com carícias o
rosto que escondes debaixo
da almofada, fechando os olhos
de prazer
e errando, por pouco,
o amor que te falseia o
estado de espírito.

Deitada de barriga para o ar
ressonas as palavras que ao escrever
poderias dizer bem alto.

IV
Esta morte não podes adiar.
Só o perder de vista
na vista em que pões a vista
te esfaqueia com facas
flácidas.
Esse silêncio que te amordaça
o coração
lá com os seus nós de marinheiro
e desatando
não chegas lá,
só no fim do dia, quando a
sombra fizer uma sombra maior
e o funeral trazer
á vida aquele sentir
de amar e ser amada.

É meio-dia nas horas certas
e o teu relógio de pulso cresce
para ser o teu guia pessoal.

V
É só fugir de patins
para a auto-estrada que se faz
de desejos
e lá visualizar, ou tocar,
naquele vidro frio que
se aquece com a imagem que eu e tu
projectamos nele,
teoricamente.

Basta pegar no martelo
e martelar em ti certas ideias
enquanto o estremecer do teu corpo
deixa as teias de aranhas
passadas em cacos sobre o chão duro
que te faz a cama.

VI
Correr com as mãos
sobre as pedras afiadas de gumes
tortos e cheios de sangue seco.
E fumar aquelas
ervas que te apagam o sentir
e o deixam mais
forte para o amanhã que anoitece
ainda cedo.

E choras, não lágrimas,
só um choro vadio e mesquinho
que se julga dono e senhor
de todos os grãos de areia que pisas!

VII
Maltratar os dias com
molhos de panos simples onde,
com marcador rosa,
escreves o teu nome do avesso
para que eu, já no mês seguinte
e num caminho diferente
te reconheça quando passo o olhar
pelas nuvens que se abrem
como um véu que proteja o sono de uma criança.

É só o fechar de olhos
e sentir o formigueiro que os ursos
de pelo castanho provocam
ao levar as rochas pela montanha acima.

VIII
É sempre igual,
mesmo quando é diferente.
No fundo e no fim o ano passa
e eu permaneço eu e tu só tu
e nós somos nós
mas cada um separado e
escrevendo a sua sina com as unhas
sujas de escavar.

Só o fazer buracos no ar
custa e torna os teus músculo rijos
para eu não poder deitar
sobre eles a minha pesada cabeça.

IX
Erguer a estátua na avenida
e cantar no cimo de uma árvore
que as cores
mesmo no escuro são as mesmas.
Gritar o fim do sonho
que se vai quando o que tu sentes
já é inventado
e o que não é inventado
se foi há muito nas asas de um pássaro
para o oriente do mundo.

Perdendo-se nos novos sabores
e num futuro que de risonho tem tanto
quanto eu de boca fechada
te falo e digo que te amo.

X
Quando acaba...
é só o sentir que resta
e nada mais.
Nada mais é preciso também
calo o meu coração de propósito
porque se falasse o quanto gosto de ti
roubava cada momento, cada segundo
que poderia gostar de ti
a um outro nível.

Nada mais importa...
Nunca é demais.
Neste dia, nesta hora, quando for
não te vou dizer, não!

Eu gosto de ti,
não por o dizer.

Só por o sentir...

Nunca é demais sentir!

E eu sempre sinto isso...

Ricardo Costa

domingo, 20 de junho de 2010

O meu castelo de areia...

Construo minha fortaleza
Com areias do areal
Para manter minha fraqueza
Forte por natureza
Onde não me possa fazer mal!

Faço portas que não abrem
Janelas de vidro fosco
Armários onde cabem
Gavetas que não encravem
Decoração a meu triste gosto!

Meu Castelo de areia fina
Guarda bem os meus degredos
Na rua fechada sem esquina
Triste fado abraça a sina
Forte seguro dos meus segredos!

Apaga as luzes, vai dormir
Recolhe a ponte, faz a cama
Narcotiza o meu sentir
Sinto a leveza a fluir
A tranquilidade que me acalma!

O meu castelo de fina areia
O meu castelo de protecção
No seu poço que a rodeia
Casa minha e de quem anseia
Guardar lá seu coração!

Ricardo Costa

sábado, 19 de junho de 2010

Queda Livre

Caio no doce ar
que me fustiga as faces ruborizadas.

Em voltas e revoltas
com a ausência minha
nestes momentos que as cinzas de
um fósforo apagado
desenharão com tinta perpétua
a mensagem invisível aos meus olhos
marejados de lágrimas!

Caio no doce ar
que me faz cócegas na barriga.

Correndo, andando, dançando
ao sabor das palavras do vento
que, ditas ou não,
fazem aqueles pseudo-Deuses do Olimpo
cair no chão lá no fundo
primeiro que eu.

Caio no doce ar
que me afaga o cabelo.

Olhando e nada vendo
no branco mártir de umas quantas
nuvens desordeiras
em busca de mulheres que lhes
satisfaçam os apetites.

Caio no doce ar
que me parece um pedaço de algodão.

Libertando-me das teias e areias
que sujam e deixam
um emaranhado de confusões
que, num dia chuvoso,
se transformam num bicho de sete cabeças.

Caio no doce ar
que me veste o traje festivo.

Sorrindo de olhos e alma
e guardando no cesto de roupa-suja
os farrapos de silêncio
que os gritos estridentes dos macacos
lançam como balas de papel
onde a cadeira que te sentas
pode ser feita de ouro.

Caio no doce ar
que...

Chão!

Ricardo Costa

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Palavras que ficam por dizer

Em todas as palavras que ficam por dizer
eu digo muita coisa...
Em todas as palavras que não digo
eu digo tudo
tudo mais que não poderia
dizer se te dissesse por palavras...
Quando não falo
digo que gosto de ti.
E se o falasse...
Não seria igual.
Em todos os silêncios que faço
falo pelos cotovelos
sussurro aqui
cochicho ali
até gritos me saem da garganta
e
não é preciso ouvi-los.
Em todas as palavras que me esqueço
lembro-me de ti.
Em todas as palavras que desconheço
sei mais um pouco sobre ti.
Perco-me por ti
em todas as palavras que deito fora
na valeta
e em todas as palavras que apago
nasce um desenho só teu...
Para quê dizer essas palavras?
Todas elas guardo no bolso
quando passas por mim
embora por vezes algumas me fujam para o olhar...
Em todas as palavras que não quero dizer
eu faço o testamento
e enterro-me no caixão
só para a terra me tapar a boca.
Em todas as palavras que ficam por dizer
eu digo
eu sinto
e por mais que não diga
fica tudo dito quando o meu olhar dá com o teu!

Ricardo Costa

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Memórias de uma ave

Estica as asas vagarosamente
Ave livre do paraíso
Colorida tão estranhamente
Voando sobre o chão que piso.

Olha em volta o seu poiso
Chilreando canto desafinado
Som que aos ouvidos eu oiço
Deixando-me extasiado.

Fecha as asas em voo picado
Bico aberto, garra mortal
Sua presa! Pobre coitado
Caracol que a ninguém fez mal.

Vai-se embora, minha ave
Papo cheio e bagagem feita
Vai para onde? Ninguém sabe
Essa ave de vida suspeita.

Ricardo Costa

Sorrisos

Balanceia teus lábios
Para trás e para a frente
Em movimentos sábios
De suavidade fluente
Com ligeira travessura
Fazendo curvas de ternura
Com boca definida
Feição não esquecida
De felicidade fulgente

Mostra a Nós o brilhar
Da tua alma em pessoa
Do teu ser a engraçar
Em teu sorriso que destoa
Da normalidade mortificada
Da alegria enlutada
Que não deixa transparecer
O quanto faz sofrer
E no fundo te magoa

Dá ao mundo um sorriso teu
Afasta para lá as trevas
Funeral do que morreu
Foi-se o escuro com as pedras
Ficou só teu rosto alegre
Sorriso aberto em sítio agreste
Faz nascer um novo dia
Sorrisos, tantos, de alegria
Compensando todas as perdas.

Ricardo Costa

Arco-Íris (Diz-me as cores)

Diz-me as cores
Que no ar
Perdido de amores
Os desejados odores
Resolvem provar

Desenha a cor
Como transparente
Instigando o seu ardor
Provocando o tremor
Ligeiramente dormente

Escreve no corpo
De forma clara
O sentimento morto
A cor de desconforto
Mas de pureza rara

Pinta nos braços
As cores do teu céu
Em tais enlaços
Riscando os traços
Fazendo-se de réu

Arco-íris desnaturado
Cores em rodopio
Sentimento amado
Coração deslumbrado
Boca que perde o pio

O momento descansa
Coração finca-pé
Nesta brisa mansa
Como um riso de criança
Sempre é mais do que é

São as cores que vislumbras
As cores que dizes
Na altura que te afundas
E entras nas penumbras
De momentos mais felizes

Ricardo Costa

Valquíria

Vai-se perdendo lentamente
No seu girar inconsciente

Nos campos coloridos
Vento forte
Dispersas para o norte
Quais momentos perdidos
constroem sua sorte

No vendaval de águas
Onde se afogam suas mágoas!

Cai o seu tempo
Flores brotam do chão
Antro de perdição
Com um qualquer desalento
Te queima o coração

Vai-se escorrendo o final
Piando um pardal

Leva na boca a flor
Valquíria que cresceu
Quando colhida, morreu
Sendo a sua dor
Não mais peso teu.

Lentamente se perdeu
Cheiro no ar que esmoreceu

Amargo gosto da dor
Que perdido, vai com a flor!

Ficando só, em embaraços
Amor plantado nos teus braços.

Ricardo Costa

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estranheza que se entranha

Ás vezes dou por mim perdido
nessa ruelas fechadas
com os olhos postos nos candeeiros
de luz fraca.
E os ouvidos colados na cegueira
dos aromas dos
cozinhados dos sem-abrigo
com os seus animais de estimação...
É de pés feridos
pela voz e a subida íngreme
que desce até à praça que eu vejo
através de uma fresta de porta desengonçada
o mundo sujo
onde durmo todas as noites.
É tão estranho...
O cheiro a mofo dos recantos escurecidos
pelo esquecimento
onde seringas de má sorte enfeitam
o chão de mil pedras...
Figuras imóveis que se sentam e choram,
estátuas de cal que derramam sangue
e rezam
oram no fundo de escadas lavadas
na manhã que custa a passar!
São apenas figurantes do dia-a-dia...
É tão estranho...
Ler nos murais destruídos
palavras de ofensa escritas em língua corrente
para quem quiser
acreditar nelas e as levar ao colo.
Observar, apenas isso,
o leve desgaste que arruína
as casas por que passo a vista
deixando-as meias feitas, meias desfeitas
quando os umbrais desaparecem sob as cinzas...
Contínua tudo tão estranho...
É passar um dia que te faz lembrar outro,
sempre o mesmo,
aquelas vozinhas irritantes das pessoas
nas janelas que fazem
a fortuna dos pobres transeuntes...
Os vidros partidos que enchem os contentores
na rua
A chuva que cai e molha os jardins
afogando-os para o Sol que tarda nos dias de inverno!
É tão estranho...
Este mundo...
Este dia...
Esta vida...
Já não basta continuar a andar
Não tarda seremos estranhos para os outros
para nós
e aí...
Já nada vai interessar!

Ricardo Costa

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sentimento de dois gumes...

Senta-te comigo
neste tronco caído ao
pé da margem do rio que corre!
Dá-me a mão
e juntos viajemos com a corrente
para um lugar
inóspito e cheio de novo!
Deixa a lembrança presa
ao chão lamacento
e tira as sapatilhas
que te atrapalham os movimentos!

Amarra a tristeza numa pedra
e
atira-a para bem longe!

Ou...

Esconde-a no meu bolso!

Deixa-a lá ficar
a ganhar teias de aranha
e cotão
de momentos passados...
Usando o fato fora de moda
que relembra
o que esqueceu por não o querer lembrar!

Deixa-a a ficar comigo...

Deixa...

Fica antes com a felicidade
Toma...
Dou-ta toda e mais alguma que tenho
na minha reserva!
Usa-a a tiracolo ou simplesmente
dá-lhe a mão...
Mas leva-a contigo...

Não quero mais sentir o cheiro dela...

Agora pára...
Não me acompanhes mais...

Segue o teu caminho
diferente do meu...
Eu viro à esquerda...tu à direita...
Não pares...

Começo a correr...

Enquanto choro de tristeza por ver o teu sorriso de felicidade!

Adeus....

Ricardo Costa

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Dança (Vida)

Danço de olhos vendados
guiando os passos com o coração.
Danço de mãos atadas e pés descalços
sentindo
vivendo
sorrindo
querendo esse ritmo que me corre
as veias prestes a explodir!

Para quem danço?
Quem me dera saber eu...

Danço a rir,
a chorar...
Sozinha e com gentes
e gente...
Danço enquanto sonho,
com as palavras que não disse...

Danço
Danço
Até a amar eu danço!

Mesmo parada eu danço,
encostada ao canto no meu mundo
sempre dançarei...
Quando o maestro der por encerrado o espectáculo
eu continuarei
a dançar!

Ensaio e esqueço
esqueço e ensaio...
Passos novos,
novos passos
e calor
de sentir a dança
o sonho
a vida
a correr comigo
de mão dada!

Já caí a dançar...
Mas dancei nesses momentos também
e recomeço
onde me perdi
e faço de novo
a dança que se interrompeu!
Não quero parar
não
a dança é vida
e eu vivo por ela e para ela!

Não sei para quem danço...
Não preciso saber...

Diz-me...

Queres dançar comigo?

Ricardo costa

Cansaço (Há quem só tenha...)

Há quem tenha tudo,
infinito
de prazeres e aromas afrodisíacos.

Há quem tenha mais,
cadernos de letras cheias
naufragadas no amor que transborda a banheira.

Há quem queira mais,
flores e cores de amores
que se foram na brisa de verão.

Há quem lute por ter,
pijama novo de flanela
que estreei quando o brilho dos teus olhos me iluminou a noite.

Há quem nada tenha,
mendigo perdido nas ruas
que amargam o sorriso gratuito.

Há quem nada deseje,
lutador perdulário do jogo
que a bola desliga de si própria.

Há quem não queira saber,
sábio ignorante da vida que
se faz imperador dos bolsos vazios.

Há quem...

Eu não sou desses...

Eu só tenho...O cansaço!

Cansa muito querer mais que isso...

Há quem tenha só cansaço,
Eu
Eu
Eu
Cansaço...

Vou dormir...

Ricardo Costa

Morrer é só não ser visto

Morrer é só não ser visto
com os olhos
e com os pés que andas pela montanha
rasa de paus
e videiras secas acastanhadas.
É só não ser visto
pelos figurinos esqueléticos
que dão gargalhadas de tristeza
e esbugalham seus olhos em bico
para ver
olhando
o suave passar do invisível.
É apenas não ser visto,
pelos ouvidos e mãos frágeis
de um pássaro preso
alimentado a pão e água.

Morrer...
É só passar despercebido.

É só não ser visto
para passar despercebido,
os desmaios e calores
os calafrios e sensações
os risos e arrepios
é esconde-los na gaveta e
deitar a chave ao rio.
É não ser visto de relance
por vizinhos nas janelas,
sendo julgado por juízes de praça
que de réus
fingem passar ao lado!

É só não ser visto,
do céu
do inferno
no mundo
na terra
nos olhos
nas lágrimas
É...
Ficar transparente
e ficar deitado no chão.
É só não ser visto,
ficar escondido
debaixo da cama até o dia
findar!

É...
Não deixa de ser...
Apenas...
Não ser visto...
Só...
Olhar...
Não chega...
Ver...
Não resulta...
Nada!

Morrer...
É só não ser visto
Com os olhos!

Morrer...
É só não ser visto...

Morrer...
Morrer...
Morrer...

Ricardo Costa

sábado, 12 de junho de 2010

Silêncio de tristeza amena...

Cala-se!

Cala-se o silêncio em revolta
que, dentro do barulho,
esconde os dissabores que me fazem cócegas!

Fala!

Fala o silêncio ameno
que, com a mochila ás costas,
caminha por esse carreiro nos seus saltos altos!

Vive!

Vive o silêncio oco
que, de costas voltadas ao céu,
arranha as raízes da estante encostada!

Morre!

Morre o silêncio estremunhado
que, com cores vivas,
pinta de negro o futuro que enlaças ao pescoço!

Fim...

Nada sobra...

Só o silêncio...

E a tristeza pela sua partida!

(Silêncio)

Ricardo Costa

Faz-te de surdo...

É noite! A minha alma perece!
Sentimento que foge entre a mão,
atraiçoa novamente o coração,
vida sem luz que o passar adormece!

É a vez cega do amar ressentido!
Grito no silêncio sem dono,
amargo sentir de abandono!
Quando se perde o há muito perdido!

É gostar de forma incoerente!
Amar o amor que jaz indiferente,
sentindo o destino fugir!

É odiar o que se ama,
não responder quando este chama!
Fingindo não o ouvir!

Ricardo Costa

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O choro do vento de ontem...

Chora o vento,
sobre as planícies plácidas de inverno,
onde
as flores nascem com
promessas de dizeres mal-fadados!

Lágrimas do vento,
chuva da maré-alta que se espraia
nos descampados por trás das ruínas!

As ruínas que deitaste fora!

Suspiro do vento,
desabafo de companheiro de armas,
de canhão aberto
e
espadachim sanguinário.
Recordação lenta...
Memória!

O candelabro de rua enfeita a solidão!

Chamamento do vento,
sorriso fechado de agonia aberta.
Peito dilacerado
saudade que deserta
o tempo que se desenha no caderno esquecido na cave!

Agoniza o vento,
antigo vento,
vento antigo que se agoniza complacente,
cúmplice da mentira,
verdade que falseia
maresia de verdade que atiça o fogo
de lenhas
perdidas nos tempos já passados!

O vento de ontem!
A ontem o vento que foi.
Ontem não deixará de ser vento
o vento que já o levou!

Chora o vento de ontem,
chora a sua brisa de embalar,
chora as horas que fez mover
e
chora
o ontem que perdeu no hoje que se faz sentir!

Ricardo Costa

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Conversas fechadas com a língua presa ao sentimento inventado!

Cai morta inerte
no chão duro de almofadas de ar
a língua tua,
e minha,
que saboreia o desgostoso paladar
da ironia.

Algemas de papel! Caçam no vácuo
a saliva que te sai dos cantos da boca!

Beijas o pano que arrasta o silêncio
e feres-me as costas
com pedras de falsos orgulhos,
tentando,
de forma subtil,
fechar a porta entre as nossas divisões!

Reinventas a folha pesada
que carregas nos ombros e dás de graça!
Nas feiras de avenida
quando o sol se aproxima
e cumprimenta os do costume,
o fardo que te magoa o respirar
despe-se de preconceitos
e cinge-se ao prazer da nostalgia
que se enrola nas paredes da prisão!

Quando morre,
No ligeiro brilhar dos olhos fechados...

Cai no silêncio de alma penada,
teu coração de triste fado
e,
no último suspiro antes do fim da sessão,
solta um murmúrio prolongado
já que as palavras falsas
ficaram retidas no saco do lixo!

Onde apodrecem
fechadas
presas ao sentimento que ousaste inventar!

Ricardo Costa

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Amor rasgou-me as folhas...

O Amor rasgou-me as folhas
E roubou-me a caneta
E enquanto eu pensava nela
Apagou-me o resto deste poema!

Ricardo Costa

O jardim do ódio e das coisas mortas...

Cheiro acre da noite,
brisa de mar quente no deserto
quando as flores morrem com gestos de ternura denunciados!
Olhos pousados nos parapeitos
abraçando o desabrochar do vil sentir
que te atira para o arrozal de pedra!

Corpo vidrado de copo semi-vazio,
semi-cheio...
Braços que se estendem flácidos
para sodomizar a amargura do teu rosto esquecido...
Filme que se renega
renunciando ao tempo das lágrimas
que brotam dos poros ensonados que
o ódio mata a sangue frio!
Imunda a flor que se derrama
sobre o estendal ao virar da esquina.

Mantém-se de pé sobre os braços,
faz sombra sobre a Lua que foge entre as lápides
e suicida-se...
Laço de pescoço, pistola de bolso e
narcótico de pura satisfação mórbida
onde se obriga a vender o corpo gasto de uso e desuso.

Insónias de ser sem dormir e floresce
na morte o dia que vira noite na fantasia de si próprio.
Nada o seduz,
apenas o suave tocar dos dedos frios lhe arrepia o coração,
mas no debruçar do tempo
a vista do jardim por cima do ombro parece
lucidamente morta.

Ricardo Costa

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O escuro também se ri, mas tem um humor negro...

Na sombra vê-se escuro,
e vê-se pessoas más.
Não é que se veja grande coisa no escuro,
mas quem vê bem
consegue ver ás claras
e claro que vê as pessoas más,
os defeitos tornam-se claros
no escuro...
O escuro ilumina,
o escuro é de dia quando a noite chega
e a noite é o escuro
e a sombra é do escuro
e o escuro é das pessoas más
e as pessoas
são más no escuro,
ninguém é mau ás claras.
No escuro o Sol passa despercebido,
a luz fica escura
e o preto sente-se branco,
no escuro as palavras que dizes ficam ocas
e não se vêem...
Nem se ouvem,
a audição vai para o escuro
e não ouve,
vê apenas escuro,
é apenas escuro,
escuro de sombra,
sombra de escuro
e noite de sombra que foge do escuro.
É um pouco falso,
o escuro,
mais que isso é ingrato
de tão escuro não se vê a falsidade dele,
vê-se o reflexo dela
no espelho baço e pintado de preto no entardecer do dia.
É escuro...
Não fosse por isso o escuro era agradável,
era escuro para esconder,
era escuro de se esconder,
era escuro de fazer esconder,
mas claro que nada se esconde no escuro,
ele mostra tudo,
tem prazer em fazer-se notar,
de noite,
de dia,
ao meio-dia,
quando fechas os olhos
e quando os abres...
E mesmo quando não queres ele segura-te as costas,
e ampara-te,
o escuro é confortável,
quem lá vive é que não o é,
mas não deixa de te amortecer a queda
e quando cais
mesmo no escuro há sempre alguém que vê
e ri-se...
O escuro também se ri, mas tem um humor negro...
E chora de alegria,
e chora de alergia,
e chora de alergia ao dia,
e chora de alegria á alergia...
E depois ri-se...
Ri-se dele próprio,
mas ele não vê do que se está a rir,
é cego, só vê branco,
um branco sujo...
Escuro...
É doido varrido o escuro,
insanidade em pessoa se pessoa fosse,
e não é,
ou é,
mas não deixa de ser,
mesmo sem o ser...
Fica escuro na mesma e não se percebe os contornos.
Não interessa agora,
Pode ser escuro o quanto quiser,
não me afecta nem a nínguem que tenha uma lanterna sem pilhas,
só para assustar...
As garrafas de vodka servem para afastar o escuro também,
ou a solidão,
solidão escura,
escuro solitário
e companhia escura da solidão,
e o escuro bebe tudo de golada só para fugir a si próprio...
No fim perde-se nas ruas escuras,
de candeeiros apagados e casas mirradas
onde o preto tem o seu lar,
e o escuro é sem abrigo,
o escuro é abrigo,
o escuro dá abrigo,
mas o escuro perde-se na noite,
e a noite perde-se no escuro,
e nós ficámos sem saber o que fazer,
no escuro...
Só acabámos no fim,
quando o escuro escurecer mais um bocado...

Ricardo Costa

Vazio para lá da enchente...

No suave passar da manhã, vida
minha se perde e morre.
Saudade! O sangue que escorre,
tristeza da figura inerte e caída!

Rio flui! Contra a corrente!
Ser sem o ser no corpo esguio,
Angústia, solidão, ódio e frio
Amor louco de insanidade dormente!

Abraço o vazio como se nada fosse!
Trago amargo de coisa doce,
sentimentos hipócritas que me fazem sofrer!

Quarto escuro! Luz apagada!
Vida cega! Porta fechada!
Palavra secreta que me deixe morrer!

Ricardo Costa

sábado, 5 de junho de 2010

Tatuagens

Pinta-me de fresco
com a tinta de preto claro
e envolve-me na seda branca
dos teus lábios carnudos
onde, para lá do fim-do-mundo,
me possa perder contigo!

Ficaste-me tatuada no pensamento!
E eu penso sem pensar
só pensando
em ti!
Acarinho esse pensamento e
crio uma nova filosofia.

Penso em ti...
Penso por ti...
Penso no nós,
mas sem o tu, pensar é difícil!

És artista de praça
que cobra os olhares indiscretos.
Pelo canto do olho
espreito o teu trabalho e o teu corpo,
e penso...
Enquanto tu tatuas mais um momento na minha alma!

Pago o beijo como preço
e o sorriso levo de troco
quando a mão se estende e me toca o coração.
Fecho os olhos pensando
e ouvindo...

Por uma vez
não me restrinjo
ao pensar
e pego no tu em meus braços...
E vivo o momento,
sem pensar...
Apenas vivendo,
tatuando mais um pedaço da minha alma por ti!

Ricardo Costa

Chama-me falso!

Chama-me
atira-me à cara a frustração
e
agride-me verbalmente
com
a mão cheia de palavras...
Odeia-me mais,
mais
muito mais
que a ti
e eu juntos num só cubo de desespero!
Agarra-me
e deixa sair a raiva,
deixa ela
deixa a ser uma vez,
pelo menos uma vez
deixa-a ser tu e não o oposto...
Esconde as lágrimas
e toma a espada de lâmina afiada
e crava em mim
um pedaço da tu angustia
ferida,
azar do sangue cego
que te tira a razão do pensar
continua...
Chama-me de falso como nunca o fizeste!
Diz-me olhos nos olhos,
cara a cara
boca a boca
sentimento a sentimento,
o quanto não me queres e anseias
a quebra do meu espírito sob
as ameaças do que não podes fazer!
Escreve
nas nuvens
as maldições que apregoas em meu nome
e deixa o feitiço
do mal-dizer ecoar nas
paredes vazias da, outrora,
nossa casa!
Fala-me como uma criança
e da verdade da mentira tira a conclusão
da ira que te magoa!
Falso, dizes!
Falsidade, chamas!
E gritas muda de sons uma frase
que foge do destino
e que se forja como minha cúmplice!
Falsa também...
Falsa como eu,
mas falsa de bem
e a falsidade é bem disfarçado
e eu disfarçado não estou!
Espero-te no jardim das flores pretas,
aguardo-te para que mo digas
sem receios
Seu falso,
Seu falso
Seu falso...
És falso...
Com a força de mil homens de juntarei a mim
e
no abrir do crepúsculo
te direi!
Sim!
Sou falso!
Mas...Amo-te de verdade!
E a falsidade virou as costas
e segui a linha torta
que se embriagou com os sentimentos contraditórios das duas almas!
Será ela falsa também?

Ricardo Costa

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fim

Os
Navios
Espreitam
Por
Entre
As
Ondas
Que
Brotam
Dos
Teus
Olhos!
E,
Nos
Ventos
Do
Fim-do-Mundo
Fixam
O
Tormento
Do
Raiar
Da
Solidão!

Ricardo Costa

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quando o sonho me foge por entre os dedos...

Sento na pedra fria que
aquece o meu coração enregelado.
Sinto o enraivecer do tempo
que o crasso nevoeiro traz na bagagem e
esconde o arco-íris
debaixo da pálpebra entre-aberta.
A mentira e lamuria
fustigam o ermo das sensações,
e deixam só o
galante proprietário do teatro dos sonhos!

Eu mesmo!

Aprisionei-me cativo da nudez da vida,
e sonho no céu nublado
uma forma de despojar de mim
a luz que me enfeita os cantos da sala.
Raiva de ser o sentir
sem ver onde os pés calcam a minha sombra!
E o sonho escapasse
por entre as mãos entrelaçadas
nos cabelos esvoaçantes
que se espreguiçam sob a chuva...

A dor sente-se!

No final do capítulo,
viro a página em branco e
deito-me na margem de farrapos de Primavera.
De olhar extraviado lanço
a rede ao rio
e deixo fluir a tristeza
pelas brumas tumultuosas que se escondem
atrás das flores!

A brisa corre livre pela paisagem...
O meu sonho vai junto.

As lágrimas afloram-me aos olhos
quando dizemos o último adeus!

Ricardo Costa

terça-feira, 1 de junho de 2010

Quando o "Chega!" não é suficiente!

Quando o chega não é suficiente!
As portas fecham a passagem,
o melhor permanece miragem,
e o desejo esmorece, dormente!

Quando o chega não satisfaz!
A palavra perde-se no momento,
via alternativa só o tormento,
caminho escolhido por Satanás!

Papel secundário que faço,
Ansiar o já de si escasso,
tentativa que faço em vão!

Rasteira que me faz cair,
frustração que se faz sentir,
quando não consigo levantar do chão!

Ricardo Costa, para a Ana

Vivo da memória

Vivo da memória,
enquanto a chuva cai
nas sinuosas curvas que
derramam o sol sobre
as sombras do meu corpo!

O passado acompanha-me...

Sou ser nostálgico...
Da realidade da fotografia
tiro ânsias de não ser
no presente...
O masoquismo de querer
a solidão tira-me
o apetite de descobertas!
Continuo a fazer o filme antigo
e vivo,
a preto e branco!

São as cores que me fazem ver...

Choro lágrimas secas
por cima do deserto de sensações.
Quero de novo,
quero outra vez e mais uma vez...
Vivo da memória,
e no livro da história
abraço a nostalgia da vida
que se afoga no tempo...

Perdida!

Ricardo Costa, para a Laëtitia