quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estranheza que se entranha

Ás vezes dou por mim perdido
nessa ruelas fechadas
com os olhos postos nos candeeiros
de luz fraca.
E os ouvidos colados na cegueira
dos aromas dos
cozinhados dos sem-abrigo
com os seus animais de estimação...
É de pés feridos
pela voz e a subida íngreme
que desce até à praça que eu vejo
através de uma fresta de porta desengonçada
o mundo sujo
onde durmo todas as noites.
É tão estranho...
O cheiro a mofo dos recantos escurecidos
pelo esquecimento
onde seringas de má sorte enfeitam
o chão de mil pedras...
Figuras imóveis que se sentam e choram,
estátuas de cal que derramam sangue
e rezam
oram no fundo de escadas lavadas
na manhã que custa a passar!
São apenas figurantes do dia-a-dia...
É tão estranho...
Ler nos murais destruídos
palavras de ofensa escritas em língua corrente
para quem quiser
acreditar nelas e as levar ao colo.
Observar, apenas isso,
o leve desgaste que arruína
as casas por que passo a vista
deixando-as meias feitas, meias desfeitas
quando os umbrais desaparecem sob as cinzas...
Contínua tudo tão estranho...
É passar um dia que te faz lembrar outro,
sempre o mesmo,
aquelas vozinhas irritantes das pessoas
nas janelas que fazem
a fortuna dos pobres transeuntes...
Os vidros partidos que enchem os contentores
na rua
A chuva que cai e molha os jardins
afogando-os para o Sol que tarda nos dias de inverno!
É tão estranho...
Este mundo...
Este dia...
Esta vida...
Já não basta continuar a andar
Não tarda seremos estranhos para os outros
para nós
e aí...
Já nada vai interessar!

Ricardo Costa

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