Na sombra vê-se escuro,
e vê-se pessoas más.
Não é que se veja grande coisa no escuro,
mas quem vê bem
consegue ver ás claras
e claro que vê as pessoas más,
os defeitos tornam-se claros
no escuro...
O escuro ilumina,
o escuro é de dia quando a noite chega
e a noite é o escuro
e a sombra é do escuro
e o escuro é das pessoas más
e as pessoas
são más no escuro,
ninguém é mau ás claras.
No escuro o Sol passa despercebido,
a luz fica escura
e o preto sente-se branco,
no escuro as palavras que dizes ficam ocas
e não se vêem...
Nem se ouvem,
a audição vai para o escuro
e não ouve,
vê apenas escuro,
é apenas escuro,
escuro de sombra,
sombra de escuro
e noite de sombra que foge do escuro.
É um pouco falso,
o escuro,
mais que isso é ingrato
de tão escuro não se vê a falsidade dele,
vê-se o reflexo dela
no espelho baço e pintado de preto no entardecer do dia.
É escuro...
Não fosse por isso o escuro era agradável,
era escuro para esconder,
era escuro de se esconder,
era escuro de fazer esconder,
mas claro que nada se esconde no escuro,
ele mostra tudo,
tem prazer em fazer-se notar,
de noite,
de dia,
ao meio-dia,
quando fechas os olhos
e quando os abres...
E mesmo quando não queres ele segura-te as costas,
e ampara-te,
o escuro é confortável,
quem lá vive é que não o é,
mas não deixa de te amortecer a queda
e quando cais
mesmo no escuro há sempre alguém que vê
e ri-se...
O escuro também se ri, mas tem um humor negro...
E chora de alegria,
e chora de alergia,
e chora de alergia ao dia,
e chora de alegria á alergia...
E depois ri-se...
Ri-se dele próprio,
mas ele não vê do que se está a rir,
é cego, só vê branco,
um branco sujo...
Escuro...
É doido varrido o escuro,
insanidade em pessoa se pessoa fosse,
e não é,
ou é,
mas não deixa de ser,
mesmo sem o ser...
Fica escuro na mesma e não se percebe os contornos.
Não interessa agora,
Pode ser escuro o quanto quiser,
não me afecta nem a nínguem que tenha uma lanterna sem pilhas,
só para assustar...
As garrafas de vodka servem para afastar o escuro também,
ou a solidão,
solidão escura,
escuro solitário
e companhia escura da solidão,
e o escuro bebe tudo de golada só para fugir a si próprio...
No fim perde-se nas ruas escuras,
de candeeiros apagados e casas mirradas
onde o preto tem o seu lar,
e o escuro é sem abrigo,
o escuro é abrigo,
o escuro dá abrigo,
mas o escuro perde-se na noite,
e a noite perde-se no escuro,
e nós ficámos sem saber o que fazer,
no escuro...
Só acabámos no fim,
quando o escuro escurecer mais um bocado...
Ricardo Costa
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