A cidade está deserta,
e nos recantos
embaciados das ruas
sem nome
o monstros vadios desenham
as paredes,
as janelas,
os beirais das casas,
esquinas
que giram para o litoral
e se fecham
para dentro do seu cadeado
numa tentativa,
apenas,
de tentar fugir
há mão que lhes agarra
as roupas sujas
de um amor idílico
mas falso
e temperado de agonia
sólida.
Algemas,
que se prendem nos sinais
e atrasam
a corrida
a fuga para um qualquer
lado mais sombrio
da rua que sobe e desce
de forma plana
e desordeira.
Magos negros
escrevem,
em línguas mortas,
os vários nomes
pelo qual o Diabo é
chamado!
Ao longe
ouvem-se os risos das
crianças...
Em brincadeiras de papel
e nos cadernos brancos
um escritor
mente para o mundo
e diz-se mágico,
escrevendo gatafunhos
que nada mais significam
que nada!
Como prisões de vidro,
os carros vermelhos
passam a correr de olhos fechados
e qualquer prédio
cai no chão e estabelece
uma nova casa,
um novo lar.
onde possa por fim
gastar a sua pequena reforma
em algum conforto pessoal!
Vielas estrangeiras
enlouquecem o cimento partido
dos esgotos
em cambalhotas artísticas
de uma modernização
precoce!
Qualquer loja,
de brinquedos,
de armas,
de droga,
abre um cofre seguro
para lá depositar
uma esperança que, um dia,
as naus dos antigos
vagueiem de novo
os sete mares para o
terrível desconhecido!
Mas a cidade está deserta
dentro das suas cidades perdidas,
qualquer jardim
que perdeu a memória
e um simples beco com amnésia.
A declamação do triste poeta
sentado na praceta
na mais faz que atingir
as paredes surdas,
e atiçar os cães a um suicídio
prematuro.
Ninguém conhece o vizinho
que mora do outro lado do rio,
e apenas as gaivotas,
mortas a tiro,
levam as cartas brancas
que felicitam um certo poder!
Dentro da cidade,
cidades mais pequenas se fecham
em casa das mães!
O medo engole os comprimidos
para dormir,
a sesta faz-se acontecer.
OS monstros continuam a vaguear
pelas falhas entre os prédios,
mas mesmo assim,
quando se liga a televisão,
o quadro que o sem-abrigo pinta
é de um cidade
completamente deserta
embora as gentes em multidão
aflorem para os seus trabalhos
cada um na sua cidade preferida!
Ricardo Costa
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