Sai à rua
e espreita pela janela
a margem do rio
que leva a noite morta
nos seus braços caídos
sobre as pedras redondas,
podadas e reluzentes,
achando-se
perante o olhar fechado
dos barcos que
se ancoram na Lua cinzenta,
que lava a cara (em sangue)
nas terras de seres mortos,
ficando
tristemente leves os fardos
de sonhos não queridos
que os papagaios ousados
deixaram escapar
na sua falsa imitação
de um ser sem palavras
e de coração atado.
Acende-se uma luz!
O rio corre no lado oposto
àquele em que as
lágrimas doces do desespero
escavam na tua face
uma maré de contentamento
descontente,
e te afogam, perdida,
nas chaves trocadas que
abrem a pintura
de prata e ouro
escondida atrás da cama
por debaixo dos travesseiros.
Uma porta abre-se!
Molhas os pés calçados de ar
e deixas as pequenas
nuvens líquidas
te assassinarem os poros
e te contarem histórias para adormecer,
na tua cama aberta
o pijama posto de parte
a um canto do guarda fatos
e tu, só tu,
deitada na cama,
coberta com um véu de estrelas
desnudadas e
sentindo no pescoço
as carícias frias e amorosas
que a brisa te faz
enquanto molha os folhos
do vestido que trazes
preso aos tornozelos feridos!
Deixa cair a cabeça...
Apaga as luzes...
Fecha a porta...
O rio continua a correr
pelo atalho das coisas ruins
enquanto nos teus sonhos,
tu vens até mim de bom-grado...
Ricardo Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário