Ouvi dizer que há um caminho que chora
é ele, na sua santa ignorância,
que se ajoelha perante
uma estátua de terra dura
que em cicatrizes elabora um estranho mapa.
Nos olhos dos viajantes o vejo
cabelo em desalinho apontando para o norte
e nas árvores em volta,
a rosa aos quatro pólos
se maquilha com sentimentos absurdos.
Uma paisagem de algo
é Água, Terra e Ar e ás costas, o Fogo
de uma frieza imperceptível
mas que guia cegamente pela curva
que se faz recta.
Ao lado, depois das margens secas,
os sôfregos náufragos
de Amores que já lá foram
permanecem perdidos e sós
em busca dos sorrisos verdadeiros
e do caminho para o Amor verdadeiro.
O enigma manifesta-se
em vontades
e o cais no meio do caminho
alberga em si
os domínios já esquecidos
das sabedorias infantis de quem sabe
qual a mão que aponta,
sem julgar o temido destino,
o caminho que o Sol cria como discípulo.
As cores das árvores pintam-se
num retrato pouco fiel da sua realeza,
pois o pó que os pés levantam
turvam a vista do solitário pintor
que faz do mato a sua nobre casa.
Contudo,
há um brilho que não brilha
que ilumina o caminho invisível
e sem nome,
sendo os letreiros deixados para trás
uma simples tentativa
de enganar os tolos ignorantes
que a vida lhes dará o seu bem mais precioso.
Basta acreditar,
esperar pelo Domingo solarengo
e ouvir o pequeno, mas sonoro,
batimento do coração que canta
para quem quiser ouvir
e diz que os fantasmas estão
guardados nos baús do sótão cheio de lixo.
Basta ouvir o riso dos pássaros
e o respirar dos navios que passam,
os desabafos das flores maltratadas
e depois, a irritação do Sol por se ir embora.
Ouvi dizer que há um caminho que chora
e que, nas suas pedras calcadas,
ri tanto que fica sem ar nos pulmões!
Ouvi dizer que há um caminho que chora,
e quem percorre esse caminho
nos seus enganos e desenganos,
acha no fim um tesouro que faz inveja
ao mais rico Rei.
Ouvi dizer que há um caminho que chora,
ouvi dizer que há um caminho que ri,
ouvi dizer que há um caminho que vive,
ouvi dizer que há um caminho que tenho de percorrer!
Ouvi dizer que há um caminho que chora,
calço as minhas sapatilhas
e, a todos os caminhos da minha vida,
percorro-os como se fossem
O Caminho...
Não custa nada!
Ricardo Costa
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