A tinta da página já esmorece
e eu,
pinto-te nela
com palavras de todas as cores
e feitios,
de cima para baixo,
de baixo para cima,
direita esquerda e
do avesso ao contrário...
De todos os sons possíveis
e gritos secos,
rascunho perdido
e retrato de mãos vazias
um nível de loucura
em expoente material sólido,
preto,
branco,
na palete de cores roubadas
em cima da cabeceira
em que me deito ao lado...
Da página aberta
me sorris em figura triste
e fechas os olhos,
visão desamparada
coração no chão e só sangue,
sangue e terra
pois o Sol põe-se
sobre as águas e as folhas
do caderno amolecem,
e o teu desenho perde-se
numa fotografia
amarelecida com o tempo
e cheiro de amargura
que se agarra a teus poros!
Do fundo do dia
olhas-me em sintonia
abraças as minhas mãos
feridas e desesperadas,
trazes a cura num copo vazio
e enches de nada
o teu corpo,
para mim,
ensaias o meu prazer
e facultas o guião
para me matar...
Eu desenho-te uma vez mais,
para te perder
mais logo,
só de noite,
quando o silêncio da minha vida
me lembrar,
recordar,
que jamais te disse
o que não posso dizer.
Ricardo Costa
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