sábado, 10 de julho de 2010

E eu morro...

Sorri-me
entre dois esgares de ódio!
Com os olhos em mim...
Diz-me o quanto me amas,
fazendo, discretamente,
dedos cruzados pelas costas...
Adora-me
entre dois pensamentos assassinos!
E, quando o inverno chegar,
despe-me das roupas rasgadas
e beija-me em sítios
que a língua tem vergonha de falar alto.
Ama-me
num suspiro de agonia!
Mete-me na algibeira e atira-me
ao chão como um lenço caído
esbarrado numa porta de cortiça dura.
Quando eu morrer,
prende-me às velas de um navio
e deixa-me viajar o mundo pelos céus
escuros e aquosos,
permanece a meu lado
e juntos daremos aquele passo
para lá do precipício.
É só cair...
Quando o fundo chegar,
lembra-te que me amas-te
e chora todas as lágrimas
que, enquanto era vivo,
resolveste guardar no casaco que despiste
em minha casa.
Então, mente-me...
E cria um laço de cristal
onde o sal do mar não enferruja
a vida tua que ainda
corre muito para além da minha morte.
E eu morro...

Ricardo Costa

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